terça-feira, 26 de novembro de 2019

Hélio Ferreira Machado


Hélio entre os filhos Jr, Heleonora, Érica e
Elisângela
Hélio Ferreira Machado. Difícil escrever essa história, difícil porque o Hélio foi uma pessoa com quem tive a oportunidade, de uma certa forma, conviver e por conviver via em sua áurea um mistério e na tentativa de desvendar esse mistério que o descrevo como: pessoa de olhar triste, meio que perdido no nada, silencioso, mas ao mesmo tempo cativante e muito atencioso. É na tentativa de apresenta-lo que saio em busca de elementos que possam confirmar ou não a percepção que tenho.

Nascido em 02 de abril de 1943, na localidade de Babosa, zona rural do Município de Campos, que Hélio, assim como os irmãos foi trabalhar na lavoura, contudo ele não se adaptou, não conseguia desenvolver o trabalho como os outros, e esses, de certa forma, o constrangiam com brincadeirinhas que o desmerecia. Se essas brincadeiras ocorressem hoje, diríamos que o Hélio sofrerá Bullying.

Aos fatos: Hélio tinha tudo para ser um garoto bonito, cabelos lisos e finos, no entanto a pele era grossa e com muitas feridas o que lhe causavam uma febrícula. Sua mãe, sempre calada, não deixava de observa-lo, isso fazia com que lhe dedicasse uma maior atenção. Muitas das vezes Maria Matilde, sua mãe, oferecia a ele uma alimentação diferenciada com pratinhos ou quitutes que não eram oferecidos ou feitos para os demais. Creio que esses cuidados eram receio de que as feridas fossem causadas por algo que comia. Ocorre que esse tratamento, diferenciado, causava nos irmãos um certo desconforto.

De nascença ou desenvolvido, não temos como saber, Hélio sofria de uma espécie de alergia a pico da palha de cana e de milho. Essa alergia foi descoberta mais tarde, na época não se sabia o que ele tinha, só se sabia que ele era “molenga” e “perebento”. Como mãe tem 6º sentido desenvolvido, Maria sabia que seu filho tinha algo e assim tentava compensa-lo com carinho e uma atenção maior o que só piorava porque despertava, nos irmãos, Ciúmes, se não em todos pelo menos em quem relatou o caso. Creio que esse foi um dos fatos que fez com que ele se fechasse.

Num determinado dia, lá pela década de 50, Amaro, irmão do seu pai numa das visitas a casa de João Ferreira e Antônia, avós do Hélio, vendo a situação do menino, convence a cunhada a deixar o menino ir com ele para o Rio em busca de tratamento. Convencer a mãe do Hélio foi tarefa difícil, para ela, separar dos filhos era algo inconcebível, mas dada a situação, acaba cedendo e o pequeno vai para o convívio dos tios.  Já no Rio trava amizade ou melhor fortaleceu a amizade com os primos Antônio Filho e Carlos Tel, na época Carlos Alberto.

Hélio recuperado da saúde permanece na casa dos tios e começa a trabalhar no armazém de propriedade da família que o recebia. Não foi um período fácil, longe dos seus pais, dos irmãos e da mãe que tanto amava.

Em novembro de 1960, sua mãe vem a falecer. As tias, Ana e Alice sem dizer nada da morte trazem o menino para Campos como se viessem fazer uma visita. Ao chegar na rodoviária de Campos encontram um conterrâneo, senhor Manoel Rodrigues, esse, sem perda de tempo lhe cumprimenta dando-lhe os pêsames. Essa recepção foi para Hélio um choque. Perder aquela que em sua trajetória era a única que o tratara com amor. Ele com apenas 17 anos, para época criança, sofreu muito. Vejo aqui uma outra hipótese, para o seu fechamento, talvez a mais forte, até mesmo porque na família dos Ferreira Machado, outros, ainda hoje guardam esse momento como uma espécie de trauma de infância.

Como dito, Hélio não veio para Campos para o sepultamento, ele fora enganado, veio como se tivesse vindo a passeio e como passeio, retornou para casa dos tios. Hélio foi o responsável, ou melhor, foi quem aos poucos levou os irmãos para o Rio, talvez para amenizar a separação, a distância, a lacuna deixada pela mãe.

Quando deixa o Rio e volta para Campos, como definitivamente não nascera para trabalho em lavoura, adquiriu o bar do Sr. José de Bilhinho, próximo a igreja num local conhecido até hoje com encruzilhada e nele começa a trabalhar.

Sua convivência com o pai não era das melhores, havia um choque de culturas. Nicodemos daquele jeitão de pessoa do interior e Hélio, com uma educação diferenciada, meio que “carioca”, o fato é que os dois não se entendiam e pequenos desentendimentos eram corriqueiros até que um desses desentendimento fora mais sério, levando Hélio a sair de casa. Hélio foi morar no bar, lugar sem a menor estrutura para se residir. Ana sua irmã, sem que ninguém soubesse, levava-lhe o almoço. A noite Hélio ia tomar banho na casa dos tios Tomé e Anita e lá comia uma parca refeição que Anita lhe oferecia e que lhe servia de jantar. O desentendimento passou, o relacionamento conturbado entre pai e filho se amenizou e a vida seguiu.

Nesse blog, nas histórias de alguns personagens, tivemos a oportunidade de relatar a fama dos Ferreira Gomes, como homens mulherengos. Hélio não fugiu à regra, durante boa parte de sua vida se relacionava com pelo menos duas mulheres de cada vez. Aqui vamos relatar casos que deixaram marcas: Hélio ao mesmo tempo que se relacionava com Vilma em Babosa, se relacionava com Rita de Mussurepe até que no carnaval de 1967, no Salão Atlântico que ficava ao lado do salão Azul (ambos extintos), Hélio se depara com uma jovem e a convida para dançar. A moça nos foi descrita como uma jovem de beleza natural, elegante, desenvolta e aparentemente muito vaidosa e para completar bem empregada, funcionária da empresa de comunicação, dai, talvez a desenvoltura. Conversa vai, conversa vem, marchinha para lá, marchinha para cá, Hélio lhe pede em namoro.

Como disse anteriormente era duas por vez. Hélio termina o namoro com a de Mussurepe (Rita) por ver na jovem moça de nome Neuza, hoje sua viúva, a pessoa perfeita para casar. Com essa determinação vai terminar com Vilma, a namorada de Babosa e é quando descobre que ela estava gravida. As coisas ficaram um tato quanto difíceis, as famílias se conheciam e o namoro havia tomado outro rumo. Como no interior, na época, honra se lavava com sangue, os irmãos da Vilma vão atrás de Hélio com ameaça velada. Mais para sorte do jovem, quem passeava na casa dos pais em Babosa era seu tio Amaro, esse novamente entra em cena só que desta vez com o cunhado Manoel Francisco. Amaro e Manoel Francisco, juntos, saem em busca dele, achando, levam-no até a rodoviária onde deveria embarcar para o Rio.

De volta ao Rio. No dia 04 de janeiro de 1968, nasce em Campos/Babosa sua primeira filha, Heleonora Gomes de Souza. Completado um ano que estava no Rio, período que não deu notícias, pelo menos não deu para a jovem Neuza que fielmente permaneceu esperando por ele, Hélio é convocado para uma audiência em processo arrolado pela mãe da pequena. Antes da audiência começar, Hélio pede para falar com a mãe da menina, esses se retiram da sala e quando voltam a autora diz querer retirar a queixa e retira. Mas antes de retornar ao Rio, Hélio vai conversar com os pais de Neuza e expõe suas intenções para com a filha deles. Depois disso retorna ao Rio onde permaneceu por mais 3 anos totalizando um total de 4 anos.

Com a fama dos Ferreiras de namoradores, não é difícil imaginar que ele durante o tempo que ficou no Rio não ficará sozinho, sem dúvida ele havia arrumado alguém. Embora estivesse com outras mulheres, sua intenção permanecia a mesma, mudar de vida e se casar com a Neuza que por ele esperava.

Em 1970, exatamente no dia 02 de junho, Maria, uma amiga da família da Neuza vai levar a filha e Neuza para uma tarde dançante no Club da Usina São José em Goytacazes, Localidade em que ela residia. No caminho a Maria fala com Neuza sobre o noivado e ela sem saber de nada interroga: Que Noivado? A resposta foi simples: o seu e complementa dizendo que Hélio estava exibindo um anel de noivado e que estava dizendo que iria pedir a mão dela em casamento e foi o que aconteceu naquele 02 de junho, Neuza e Hélio ficaram noivos. Um ano e pouco depois, exatamente no dia 25 de setembro de 1971 eles contraíram bodas.

O casal fixa residência numa casa pertencente aos avós de Dulce esposa de Aloísio (irmão do Hélio),
Hélio, o neto e André
casa, diga-se de passagem boa, próxima do hospital Municipal Paulino Verneck na Ilha do Governador. Neuza morando em Campos contou com a cunhada Marina para arrumar a casa do casal e com Manoel Francisco para fazer sua mudança. Hélio agora casado, decidido a levar uma vida de homem sério busca uma maneira de terminar com a mulher com a qual vinha mantendo um relacionamento. A mulher, como era de se esperar não aceitou a separação passivamente, eles travaram uma discussão. Maria do Carmo não se conformou e pior, acabou gravida dando à luz ao menino que recebeu o nome de André Gomes dos Santos. Décadas depois Hélio Coloca seu nome na certidão do Filho que passa a se chamar, André Gomes dos Santos Machado.

O primeiro ano de vida do André não foi fácil. Quando André estava com aproximadamente 1 ano e 3 meses, Maria do Carmo, resolve deixar o filho com a família do Hélio entregando o menino para o Aloísio que por sua vez, entregou para a irmã Ana que o criou com a ajuda de outros irmãos, principalmente de Irene. Pouco tempo depois ela veio a falecer.

Não sabemos e provavelmente não saberemos se Maria do Carmo amava o Hélio, se era sentimento de posse, frustração por ter perdido ou outra coisa qualquer o que se sabe é que ela não se conformou com a separação. Coincidentemente nesse período a vida do casal, Neuza e Hélio mudou da água para o vinho. Algo muito estranho acontecerá, a transformação era visível. Neuza mulher vaidosa, atraente, desenvolta, como uma flor tirada do galho começou a murchar, se descuidando, perdendo a vaidade. Do outro lado, Hélio que já não era muito de conversa, cada vez mais se fechava.

Em novembro de 1973, Neuza tem seu primogênito o qual dá o nome do pai, Hélio Ferreira Machado Júnior, conhecido por nós como Juninho. Em 75 nasce a filha do meio do casal Érica e em 77, Elisângela, ambas Silva Machado. Hélio nessa época caminhoneiro traz a família para passar o verão na praia do Açú e de lá leva-os para morar em Marreca. Aqui dá para se imaginar, se a sua esposa vinha se descuidando, agora em Marrecas, longe de tudo não daria outra, cada vez mais se percebia a transformação. Dali foram morar ao lado da casa do pai em Babosa, local onde nasceu as mais novas. Depois mudam-se para Farol onde a família reside até hoje.

Os dias, os anos passando e a situação sem mudar, onde foi parar aquele homem apaixonado, onde se escondeu aquela mulher vaidosa? Que coisa estranha acontecerá ou acontecia com o casal?

Residindo em Farol com esposa e três filhos, Hélio sempre ia Babosa ver a filha Heleonora e sempre que dava, levava a menina para passar o fim de semana com ele e os irmãos.  Lá pelos idos de 1979 a filha vai viver na casa do pai onde só saiu depois de casada. Aqui cabe uma ressalva, porque Hélio não colocou seu nome na sua primogênita? Nós contamos: a mãe da menina, com receio que o pai levasse a pequena, não deixou que ele a registrasse, que colocasse seu nome na certidão de nascimento, mas por obra do destino, com 11 anos Heleonora escolhe viver com o pai.

Relacionamento com os filhos: Hélio sem dúvidas os amou. Ele sempre foi muito farturento, de modo que nada faltava para a família, nada faltava!!! Na questão dialogo faltou conversa, bate papo, entrosamento, o estar mais presente, mas embora faltasse o bate papo. Quanto ao tratamento dispensado aos filhos, era igual? Na questão material sim, mas igual, igual não foi. Na questão afetiva, foi muito carinhoso, mas o carinho não fora igual para todos, uma das filhas visivelmente fora discriminada, mas isso foi superado e o patinho feio virou cisne.  Com a esposa, o relacionamento continuava o mesmo, embora no mesmo ambiente, entre os dois havia uma grande distância.

Para complementar o quadro referente ao comportamento conjugal, certo dia em Farol, surge uma mulher aparentemente elegante provocante, chamando a atenção dele sobre si. Essa lhe pergunta se ele não estava lhe reconhecendo. Ele responde que não e ela mediante a sua negativa se revela dizendo ser a ex-namorada de Mussurepe. Essa mulher foi o inferno na vida do casal. A esposa indignada o expõe. Em contra partida ele como numa pirraça afronta a esposa. Nessas de afrontas, no início da década de 80 nasce uma menina que entendo por pura provocação, recebe o nome de Elisângela.  Nome da sua filha, até então caçula.  Aqui uma interrogação, porque Hélio não contestou, duas filhas com o mesmo nome!

Ficamos sem resposta e não vamos a fundo porque a história aqui contada é do Hélio e não de outra pessoa. O envolvimento com essa mulher durou um bom tempo e só acabou por volta do nascimento do neto Caio. Nesse período as viagens para o Rio diminuíram e as poucas vezes que voltou ficou na casa dos irmãos. Hélio deixou de procura-la. Foi ponto final na história. Hélio como filho prodigo começa a voltar sua atenção para a família, lugar que mesmo com tantas idas, era seu porto seguro.

Esse retorno, esse olhar para os seus iniciou com o nascimento dos netos, destaco aqui Daniel filho do Júnior a quem ele amava, mas infelizmente não soube demonstrar, o retorno se solidificou com o nascimento de Caio e o bisneto Rian, neto de sua filha mais velha. Usamos a expressão solidificou, porque família, carinhoso, prestativo, Hélio sempre foi. Fátima esposa do seu irmão Francisco, confirma isso relatando com muito carinho a disponibilidade que ele sempre teve para com ela. Segundo Fátima ela o tinha como sogro. Ela conta que quando trabalhava fora, com os filhos ainda pequenos, deixava-os com a família do Hélio e ele tratava suas crianças como netos. Outro fato que guarda em suas memórias, está relacionado as inúmeras vezes que precisava de algo e com o esposo trabalhando distante de casa, na roça e sem comunicação, era a ele que recorria e ele nunca lhe disse não. Essa presteza era tão presente que aproximadamente 15 dias antes do seu falecimento, lá esteve ele em seu socorro.

Neuza, Sabrina, Daniel e Hélio
Hélio foi uma pessoa apaixonante, ao longo de sua vida fez vários amigos, para registrar cito: Ailton, Almi, Amaro Nagibi, Chiquinho Neto, Gabriel, Osvaldo entre outros. Entre esses outros destaco seu irmão Nivaldo e Márcia, nora do Sr. Ailton. Márcia, assim que casou, fora morar na mesma rua tornando-se amiga da família, especialmente do Hélio a quem ele devotava confiança. A amizade fora tão grande que a Márcia convidou o casal Hélio e Neuza para batizarem sua filha do coração, Sabrina. Sabrina por sua vez, apaixonada pelo padrinho, ainda hoje, não superou essa perda, assim como o neto Caio, cuja a perda provocou abalo emocional a ponto de trazer consequência na ordem física. Quando Hélio teve o primeiro AVC Márcia esteve ao seu lado assim como teve nos outros dois, mas destacamos aqui a presença das filhas Érica e Elisângela que foram incansáveis.
Foi com muita tristeza que vi vc partir deste mundo, mas é com toda certeza que digo que jamais partirá do meu coração. Você foi como um pai para mim [...], lembro quando te disse que ia dançar valsa cntg nos meus 15 anos e vc ficou todo feliz, e agr? [...] a morte levou você, todos sabemos que um dia é esse nosso fim e dos que amamos, mas ninguém está preparado para tão grande dor, ela roubou você de mim, mas nossa história, todas as lembranças que guardo ela não levará NUNCA 💔 [...] uma parte de mim se foi TE AMAREI💔😪💔💔 ETERNAMENTE, SAUDADES ETERNA 💔😪 Meu Padrinho, Pai e Heroi 😪 💔 (PESSANHA, Sabrina. Trechos do depoimento. Jun. 2018.).    
Muitos foram os relatos a respeito do Hélio e todos unanimes em descreve-lo como pessoa de semblante triste, com ar perdido, mas amoroso, prestativo e muito querido, não conheci ninguém com quem ele tivesse tido algum desafeto. Uma das irmãs do seu pai Appolônia contou que bastava acenar com algum pedido que lá estava ele pronto a servir, conta também que toda vez que passava por Babosa parava para saber como estava, se estava na casa da praia, o mesmo ocorria, ele cuidava.

Numa de suas inúmeras lembranças, Appolônia conta de um problema de apendicite que Hélio ainda solteiro teve, isso quando morava no Rio. Enquanto esteve hospitalizado era ela quem levava o almoço feito pela tia de nome Ana. Numa dessas idas usou uma bolsa que estava sem dinheiro. Ela havia emprestado a bolsa para uma amiga e essa tirou do interior suas coisas para colocar as delas, ocorreu que ela devolveu a bolsa, mas não colocou no interior o que havia retirado. Resultado, Appolônia foi levar o almoço sem dinheiro para o transporte e só se deu conta na hora de pagar. Sorte que na época existia confiança, bastava dizer que pagaria na volta que estava tudo certo e foi o que fez. Pediu o valor a Hélio que mesmo acamado emprestou sem pestanejar e a condução foi paga e a Hélio devolvido o valor no dia seguinte.

Eliza, também tia do Hélio, irmã do seu pai, por muitas vezes, vi relatar o quanto devia a ele. Quando seu esposo esteve internado no HPC ele por várias noites passou com seu marido, gratidão que não poderá pagar, ficará devendo para sempre essa atenção.

Falando de atenção, Josiel (sobrinho) conta do tempo que trabalharam juntos em barco de pesca. Provavelmente muitas foram as aventuras no mar, mas o que mais marcou foi o fato de Hélio ser muito brincalhão e ao mesmo tempo carinhoso e preocupado. Numa das vezes (foram duas), em que o barco ficou à deriva. Hélio em suas brincadeiras, tocava terror na tripulação e ao mesmo tempo, num canto tranquilizava o sobrinho que nessa época tinha aproximadamente dezesseis anos dizendo que o socorro já estava vindo. A preocupação com o sobrinho também ocorria com a alimentação, ele queria saber se já havia se alimentado e se preocupava muito com isso. Outro fato que marcou Josiel e provavelmente também marcou outros sobrinhos era que por ocasião das festas natalinas ele carregava todos para sua casa em Farol para festejarem o dia.

Hélio sempre gostou de festa, reunião de família e amigos, gostava de um bom prato e futebol. Por falar em futebol, num dos natais em que levou toda criançada para sua casa, ele deu de presente, para todos os filhos e para os sobrinhos, camisa do Flamengo. Josiel, com apenas 9 anos ficou meio que frustrado, ele era vascaíno e pelo jeito teria que se contentar com a camisa do Flamengo, mas não, em meio a tantos vermelho e preto eis que surge a camisa do Vasco e junto o carinho subentendido no: ‘não me esqueci de você’. Hélio era flamenguista e eu fico aqui pensando como seria a sua reação, se aqui ainda estivesse, se vivesse o que vivemos nesse fim de semana Libertadores e campeonato brasileiro (Nacional)!

Josania sobrinha, menciona a atenção do tio para com os sobrinhos, do carinho com sua mãe por ocasião da enfermidade do seu pai. Lembra das noites que Hélio, seu pai (José), seu esposo Bento e o amigo da família de nome Talvane varavam a noite jogado jogos de carta e apostando doce de pêssego em lata.

Heleonora sua primogênita conta do carinho com a qual era tratada e fala com entusiasmo do casamento em que o pai fez de tudo para que tudo saísse perfeito. O belo almoço, da quantia em dinheiro para que comprasse todo o enxoval, e esse, foi adquirido no rio com ajuda das tias Ana e Irene, do bolo de casamento e da festa e acrescenta o carinho que tratava seus filhos e por fim seus netos. Aqui acrescentamos uma frase de Caçulinha, a pessoa que fez o bolo (3 andares de bolo) e os doces. Hélio preocupado pergunta se daria, e ela lhe responde com outra pergunta: Você convidou o Farol inteiro?

A História de Elisângela com Hélio é intrigante, quando ela começou a namorar Cristiano, seu esposo, Hélio fora totalmente contra. Chegou a me relatar a preocupação de não dar certo, da filha vir a sofrer, ele temia porque o rapaz além de já ter sido casado tinha uma filha pequena. Intrigante porque parecia não amar essa menina, mas se preocupava.

Elisângela, mesmo a contragosto do pai, não desistiu e seguiu em frente, entre namoro e noivado foram 10 anos, período que deu para quebrar o gelo a ponto de ele permitir que eles construíssem na sua laje.  No casamento de Elisângela foi oferecido um almoço. Hélio nesse dia pela manhã foi para roça deixando a família sob tensão. Havia o medo dele não comparecer, mas ele compareceu e entre familiares e amigos se confraternizou.

Hélio e Caio
Três anos depois nasce Caio, a quem chamo de resgate. Todo amor que não fora dado a filha veio em abundância para o filho dela. Hélio teve outros netos foram um total de 6 filhos, 8 netos e 5 bisnetos, isso é o que sabemos. Mas todo o amor que tinha foi exposto e expressado em Caio. O sentimento era tão intenso que o menino parecia não ter casa, era com o avô que dormia, era com o avo que andava, Hélio ensinou as primeiras coisas, era ele que pegava na escola e tantas outras coisas. Seu amor se concentrou no filho da Elisângela.

A história do Hélio, história de vida, foi bem conflitante. Hélio foi visto, e por muitos intitulado como namorador, levado e outros adjetivos e ao mesmo tempo foi amado e admirado por todos aqueles que o conheceram da mesma forma que amava e cuidava dos seus e dos que estavam a sua volta. Eu particularmente o admirava muito a ponto de descreve-lo como caixinha de surpresa e para minha surpresa, nas minhas andanças em busca da sua história, descubro que ele me considerava, fato que muito me gratifica, mas não me envaidece. Depois de tantos relatos, concluo que seu carinho, sua atenção não era especial nem privilégio de ‘A’ ou ‘B’, isso era parte do seu caráter, do seu ser.

Nos últimos anos de sua vida ocorreu o seu resgate conjugal, o clima com sua esposa mudou totalmente, a família gritou mais alto, e família, mesmo com todos os atropelos é uma das características das nossas, tanto é que a notícia do falecimento do primo Antônio o deixou numa tristeza profunda. Com menos de um mês da partida do primo de quem ele gostava muito, exatamente no dia 24 de junho de 2018 Hélio Ferreira Machado deixa esse plano, mas sua história não termina aqui, ela continua, agora escrita por seus filhos e netos.


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Gonçalo Ferreira Gomes


Gonçalo Ferreira Gomes

No dia 02 de setembro de 1958 nasce o terceiro filho do casal Júlio Ferreira Gomes e Elmira Maria, Gonçalo Ferreira Gomes.


Gonçalo conhecido entre os familiares por Salo, foi um garoto estudioso, aluno do Colégio Municipal Presidente Castelo Branco. Esse sempre foi bom aluno sobressaindo na matemática, puxara ao pai que também era, diga-se de passagem, muito bom em matemática.

Não sabemos se por ter puxado ao pai na questão matemática ou se por ser filho caçula, o Gonçalo para nós Salo, em seus aniversários sempre contava com festinha de aniversário, os pais, Júlio e Elmira sempre ofereciam por ocasião da data, bolo e guaraná, já os outros dois irmão, Elizabeth (Beth) e César não contavam com essa regalia, ou pelo menos não se tem lembranças que esses dois, tivessem em sua infância, comemorado aniversário com os amiguinhos.

Gonçalo com o irmão César e amigos
Gonçalo na sua trajetória fizera grandes amigos entre esses citamos o seu irmão de sangue César, e os irmãos de coração como o Deoclenir Paiva e seu irmão Emilson; Álvaro e Pinheiro. Citamos esses como amigos inseparáveis. Para se ter noção, muitos dos descendentes do patriarca desta família, João Ferreira Gomes, moradores da terra mãe, Campos/RJ não conheceram e nem mesmo com o advento da internet se conhecem pessoalmente. Há membros desse braço da família que nunca se viram. No entanto alguns desses amigos aqui citados vieram por algumas vezes a Campos e se fizeram conhecer. Aqui notamos o tamanho desta amizade.

Morando próximo uns dos outros, se conheceram num campinho de futebol quando tinham entre onze e treze anos. Estudavam na mesma escola, o Gonçalo estudava em sala separada, mas isso não foi empecilho para a amizade. Frequentavam os mesmos clubes: Embaixadores Social Clube, Mauá, Antonina (esse extinto), entre outros. Foi no Embaixador, acompanhado do irmão César, que ele conheceu a mulher com quem se casou. 


Pinheiro, Álvaro, Gonçalo e Deoclenir
A vida foi passando e esses crescendo, chegando à idade adulta, cada um a seu tempo ou quase ao mesmo tempo constituíram família, mas a amizade firmada permanecia inabalada, coisa rara já que o que se mais vê são amigos, por essa ocasião (matrimônio) seguindo caminhos opostos. 

Gonçalo casa-se com Julinésia Mota Marins e deste matrimônio nascem Wagner e Ludimila Marins Gomes. Como citamos amizade, é bom registrar que a amizade entre eles era tão grande que o amigo irmão Deoclenir (Deo) convidou Gonçalo e esposa para serem padrinhos de seu filho e não deu outra, o convite foi aceito, em contrapartida o amigo Deo batiza a filha de Gonçalo.  Gonçalo também se tornou compadre de Álvaro e nesse negócio de afilhados para lá, afilhados para cá o Gonçalo e esposa batizam a sobrinha Ana Carolina filha do irmão César formando assim uma grande família.


Com exceção de Emilson e Pinheiro que se afastaram, não queremos dizer que a amizade fora desfeito só não tinham mais assiduidade de antes, os fins de semana eram regados a cerveja ora na casa do Gonçalo, ora na casa do Deo, ora na casa de Álvaro,  e assim a base de cervejinha, carne na brasa, crianças como os pais, brincando e crescendo juntas, a amizade se perpetuava. Os quintais uma única extensão.

Vida profissional. O sogro do Gonçalo comerciante, proprietário de uma mercearia em Porto Novo perde o sócio. Com a saída do sócio, Gonçalo deixa a agência de turismo na qual trabalhava e junto ao pai de sua esposa formam uma sociedade. Com o falecimento do sogro Gonçalo assume a empresa que passa a ser conhecida como ‘Mercearia do Gonçalo’. Nessa mercearia trabalhou até o fim da vida e dela tirou o sustento de sua família. Aqui apontamos uma curiosidade, Gonçalo considerado novo, comerciante, interagindo com todo tipo de pessoas, sempre ligado até mesmo por conta da profissão, ora turismo, ora comerciante, embora soubesse lidar com os meios sociais ele pouco usava, isso pode ser observado na sua página no face e pela ferramenta usada por muitos da família, o grupo ‘Esse Elo é Família em que foi membro, no entanto nunca postou, comentou ou curtiu qualquer tipo de coisa ou postagem. 

Gonçalo entre os filhos, Ludimila e Wagner
Gonçalo, torcedor do Botafogo, da escola de samba Beija Flor de Nilópolis, gostava de bater papo e pela frequência em clubes deduzimos que gostava também de dançar e quem gosta de dançar gosta de música. Tinha uma vida alegre, embora essa alegria não seja expressadas ou pelo menos não percebida, nas fotos deixada, em seu semblante, essas demonstram um semblante sereno.

Gonçalo tinha planos, voltar ao lugar que por algumas vezes visitara em sua juventude, visitar familiares, sobre isso chegou a comentar com um de seus amigos, pensavam rever pessoas que há muito não viam.  Sua irmã Beth conhecia, sabia do apreço que ele tinha pela família. Estes planos não foram realizados, não saiu do campo dos sonhos, Gonçalo adquiriu uma patologia ‘diabet’ e essa o levou bem cedo, com apenas 61 anos. No mês de maio de 2019, depois de um grande período internado, no dia 12 veio a óbito, deixando nos familiares, principalmente nos amigos de infância, juventude e fase adulta, sua verdadeira família, uma grande saudade. Mas não podemos dizer que não tenha vivido intensamente. Cremos que tirando por sua infância, amigos, vida social e família tenha encontrado a paz e felicidade.


quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Carlos Tell


Carlos Tell
A história que tentaremos descrever é a do filho de Manoel Gomes da Silva e Enedina Silveira da Silva, Carlos Alberto Silva. Nascido em 6 de dezembro de 1943 foi a princípio conhecido como Bebeto era o filho do meio do casal, foi o recheio do biscoito.

Bebeto sempre teve uma aparência altiva. Como o pai tinha uma postura e uma elegância nata, embora com uma certa diferença ou pelo menos, diferença aos meus olhos. A beleza do pai, era envolto de uma simplicidade, simplesmente era. Já o Bebeto tinha consciência dessa beleza e usando uma expressão atual, se ‘sentia’. Com isso passava um ar de arrogância, mas as mulheres gostavam e ele ciente que exercia um fascínio sobre elas, gostava da sensação.

Bebeto fora muito mimado, sua mãe nutria por ele um carinho muito especial, não que não tivesse carinho pelas outras duas filhas, o fato é que com Bebeto era diferente, talvez por ter sido o filho homem ou talvez porque mãe sempre conhece os filhos e via nele há necessidade de uma maior atenção.

Ele sempre soube o que queria e sabia como conseguir, manipulação, persuasão as duas coisas? Quem sabe. As tias Appolônia e Eliza que o diga. Vou exemplificar se ele quisesse ir ao cinema e assistir o mesmo filme 3, 4, 5 vezes ele conseguia, diga de passagem adorava cinema, gostava também de cachorros.

O relacionamento com o pai era tumultuado, o pai rigoroso com a educação dos filhos cobrava muito
dele e ele por sua vez, muito terrível, danado nunca gostou de regras e por não gostar não tornou as coisas fáceis. A mãe Enedina, no meio da guerra entre os dois, viveu como mediadora, sempre tentando acalmar os ânimos.
1ª Comunhão de Carlos Alberto

Quanto a vida profissional, considerando que não gostava muito de estudo, teve sorte. Conseguia com facilidade se empregar em empresas conceituadas, de expressão no mercado. Ocorre que não conseguia firmar nos empregos, embora sempre envolto de grande empolgação pela conquista, talvez por não gostar de regras, do nada chutava o pau da barraca e lá ia o trabalho conquistado com tanto contentamento. Eu particularmente me lembro de quando era representante de remédio e saiu para trabalhar na SHELL, lembro da frase: "trocou o remédio de gente pelo remédio de carro".

A facilidade em fazer amigos e despertar nas pessoas simpatia era nato, mas imbuído em sua autoconfiança, autossuficiência afastou de si muitas das pessoas que o queriam bem, de modo que, amigos, amigos não se tem notícia. Na realidade o Bebeto aprontou tanto nos levando a crer que tinha algum problema de saúde comportamental, não se sabe precisar se de nascença ou adquirida por ocasião da prisão sofrida, há defesa para as duas hipóteses.

Como se deu a prisão. Conta-se que ele fora confundido com um guerrilheiro ou rebelde de mesmo nome no período que o País passava por turbulência política. Ele ficou sumido por três dias o que levou os pais principalmente sua mãe a um estado de tristeza profunda, o pai procurou em vão, só o encontrou por conta da intervenção de um amigo detetive da polícia. Por conta dessa confusão ele trocou o nome Para Carlos Tell. É uma história real? Não se sabe, a prisão foi real, mas o motivo não se sabe, ele sofria algumas crises e quando elas passavam ele não se lembrava de nada. É fato que na véspera da prisão ele tentou entrar de carro, um fusquinha, numa feira intitulada “Feira da Providência”, quando não era permitido entrada de automóvel e ele aprontou das suas na frente do evento. Esse episódio foi apenas um dos seus arroubos.

Bebeto casou-se com Sandra Vasconcelos e desse matrimônio nasceram dois filhos, Maarcellus Tell e Marcus Tell. Com os filhos ainda pequenos o casamento foi desfeito. Os filhos se afastaram do pai ficando do lado da mãe e o relacionamento foi pautado por muito atrito. Não deu certo porque? Por conta do seu gênio, de suas fantasias, da mania de grandeza? Vai saber. Como mencionado ele se sentia. Bebeto teve outros relacionamentos e num desses, com Tania Pessanha Paula, nasceu a filha Carla.

Mas Bebeto ou Carlos Tell apresentava um outro lado, talvez desenvolvido pela maturidade, não sabemos e provavelmente não saberemos, alguns só perceberam ou se deram conta desse lado no fim de sua vida, o que não aconteceu com a Carla que declara na folha 4 de uma cartinha “Mas seu pouco, já foi meu muito. Eu tive pai”. Com relação a sua maturidade, destaco seu último emprego, uma imobiliária em que permaneceu por 15 anos.

Ele, raramente saia com o pai, uma dessas poucas vezes levou o pai a casa das tias Júlia e Appolônia irmãs de seu pai, lugar que o pai gostava, porque era a ligação com as raízes. Carlos Tell creio que também gostava, volta e meia aparecia por lá e saia visitando os familiares. A filha Carla, teve a oportunidade de vir numa dessas vindas. Esse elo com a família ele soube manter.

Conta Appolônia que quando trouxe o pai, esse mostrou o desejo de ficar na casa das irmãs, na casa de seus pais, mas Carlos percebendo que as duas, já de idade não poderiam tomar conta dele, com todo carinho, dizendo que iriam passear, levou-o de volta. Falando em carinho outra pessoa que conseguiu despertar esse lado dele, talvez a única, foi a filha Carla Tell. Essa soube se impor e cobrar dele o papel de pai e ele soube cumprir, ia busca-la na escola e participava dos eventos escolares, assistia as apresentações de dança, isso pode ser comprovado numa carta despedida (postado no grupo no Face “Esse Elo é Família” no dia 21 de abril/2019) escrita por sua filha e uma postagem de Juliana Carvalho na página de Carla Tell no face datada de 07/04/2019 (transcrita abaixo) que ratifica o que aqui foi relatado sobre a personalidade de Carlos Tell.

O pai da minha irmã se foi. Carlos Tell! Pai da Carla Tell. Que nome lindo, ele te deu Carlos foi preso na ditadura, por uma “confusão” Eles queriam prender um Carlos que não era o “Tell”, mas disso ficou esse nome lindo e a história da beleza do amor entre eles. Foram oito meses de prisão (agora não lembro se seis ou oito)
Mas hoje, Carlos, eu quero dizer do amor que sinto por sua filha.
Um amor que você e a mãe dela, permitiram acontecer: Somos mesmo irmãs! Eu fui no primeiro aniversário da vida dela, o aniversário de UM ano. E nunca mais nos separamos! Nunca!
Carla é madrinha do meu filho e meu marido era (é) o melhor amigo dela na quinta série. Hoje Carla namora o primo do meu marido, um grande companheiro para ela. Que bom, né?
Parece que o universo sempre conspirou para esse nosso grande encontro, mas no meio do caminho sempre houve VOCÊ (e Tânia) e OBVIO, meus pais! 💝
Obrigada, Carlos.
Tu me “obrigou” a pedalar e andar de patins no aterro! Tu me obrigou  subir aquele elevado que fica ali da virada para a urca. Eu como sempre reclamona, e vc gargalhando da minhas “dores nas pernas” minhas chatices, enfim... Lembro da Bike roxa que tu deu para a a Carla, eu morri de inveja, viu? Rs
De vc tenho essas lembranças e tbm do Clássico ao me ver: “Jujoca!!!” Lembro da formatura do pré escolar... Estava difícil para vc, mas vc estava lá!V Eu lembro do Fusca azul ! Vc foi buscar a Carla e nos ofereceu uma volta radical naquele carro!! (Sobretudo para meus pais 🙃)
Por muitos anos, fizemos juntos muitas coisas em nome do nosso amor por Carla. Por isso, te agradeço e tô sentindo tua perda.
Devia ter feito mais nos últimos tempos por vcs... Eu lamento. Eu errei. Carlos, vc para mim existe. E agora mesmo estou falando isso tudo para vc, te imagino dormindo em outro plano. Se recuperando e descansando.
Graças a Deus!
Eu tô mirando uma luz violeta desde ontem... Aquela chama que no faz despertar para todos os sentimentos do mundo ao mesmo tempo. Uma verdadeira confusão que só os fortes nos causa. Estou aqui a flor da pele. Mas, Carlos: Enquanto eu viver, vou cuidar dela. Juro, prometo
Vá com Deus, irmão>; Logo nos veremos sem roupa física. Te agradeço por ter sido O PAI de uma das pessoas que mais amo na vida 🙏💝

“A morte, não é nada. Apenas passei para o outo lado do caminho” (parte do poema de Santo Agostinho).

I Encontro da Família Ferreira Gomes
Elizabeth, Elsa, Carlos Tell, Nivaldo e Carla (filha)
Outro ponto que podemos considerar foi o encontro da família que aconteceu em agosto de 2016 no qual esteve presente e se confraternizou com os primos e tios, sua alegria nesse dia era visível, no entanto o que quero relatar aqui não é o encontro, nem a alegria de estar no que podemos intitular, os seus, e sim o fato dele ter se empenhado para que trouxéssemos os seus dois filhos que hoje residem no Espírito Santo, o que infelizmente não aconteceu.

Carlos Tell foi acometido por uma enfermidade que o fragilizou muito, aflorando seu lado família. No entanto se não fosse as irmãs Suely e Sônia e a filha Carla e uma antiga namorada de nome Thereza terminaria seus dias sozinho. Sua filha declara na folha 2 da cartinha já citada “Foi muito pesado ter um pai que cagou quase tudo, menos sua relação comigo”.

Carlos Tell entre as irmãs Sônia Isabel e Suely
O recheio do biscoito.
Em sua luta Bebeto/Carlos Tell perdeu a partida para um câncer. Ele, saindo de cena nos deixou. No dia 05 de abril de 2019 partiu para outro plano, deixando nos que conviveram com ele sua marca, o paradoxo de ousadia e equilíbrio, altos e baixos e três filhos que continuarão escrevendo essa história.

Termino aqui dizendo que creio que ele sempre esteve além do seu tempo. 





quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Antônio Ferreira Gomes Filho



Não gostaria de estar escrevendo essa história, se escrevo é porque a história de Antônio Ferreira Gomes Filho teve um ponto final.

Antônio, nasceu numa família pequena, composta pelo pai (tio Ferreira) a mãe Valdimira e a irmã Ana. Antônio casou-se com Luciene, o casal não teve filhos, um paradoxo para quem amava família, mas a vida tem dessas coisas.

Luciene (esposa), e Antônio
Poucos foram nossos contatos presenciais, creio que dá para contar nos dedos dá mão, no entanto, nossas conversas por telefone pareciam não ter fim.

Dos encontros presenciais, na fase de criança, tenho poucas recordação, talvez pela diferença de idade, na realidade só lembro de uma vez em que ele esteve na casa do vovô com os pais, um tio chamado Manoel Dias e a tia irmã de sua mãe tratada por Xixita e o primo Manoelzinho com a namorada. Dessa família tenho uma vaga lembrança, mas não me esqueci da fisionomia da namorada do Manoelzinho, linda, cabelos escorridos e que me fazem até hoje associar a Ilze Scamparini, jornalista correspondente da rede Globo na Itália.

Embora não me recorde, tenho conhecimento que ele esteve presente no aniversário de 90 anos do vovô, me recordo também que ele gostava muito de fotos e registrava todos os momentos, coisa muito chic, afinal quem naquela época possuía máquina fotográfica? Fotos era seu passatempo predileto. Depois dessa data, levou um bom tempo sem aparecer, até que um dia, relatado por tia Appolônia, apareceu em sua porta, num carrão um homem lindo. Esse homem era ele e Antônio era lindo realmente, embora gordinho para nossos padrões era detentor de uma beleza singular tanto plástica como de interior.

Falando em beleza interior, provavelmente poucos foram os que precisando não contaram com sua solidariedade. Com certeza os que o procuravam não saiam como se aproximaram. Quanto Antônio ficou sabendo que a tia Alice sofria de Alzheimer ele passou a ligar com mais regularidade para obter notícias. Era a forma que tinha de dar atenção. Essa doença neurodegenerativa, por conta da enfermidade da sua mãe, o marcou muito. Ele se compadeci de todos que sofriam da mesma. Contava que havia sido marcado profundamente por ocasião de uma cena presenciada. Ele havia visto sua mãe olhar-se no espelho e perguntar quem era aquela mulher. Isso o chocou tanto que toda vez que se mencionava alguém com o problema ele relatava a cena.

Posso falar também dos meus pais que tiveram dele, por ocasião da enfermidade e morte de minha irmã, toda ajuda possível, tanto dele quanto do pai. Como agradecimento meus pais deram minha irmã para ele batizar. Lembro-me desse dia, dia do batizado da Rosana. Confesso que não me lembro do batizado em si, mas lembro, que aos meus olhos de criança, ele comia muito, lembro que numa refeição ele tomou uma coca-cola família e comeu um abacaxi sozinho.

Bate papo no messsenger
Depois dessas vezes só me lembro de mais três, uma por ocasião da morte do José Machado outra, um ano depois, no enterro de Nico filho do José e a terceira por ocasião dos 90 anos da tia Júlia. Não me lembro de ter estado com ele outras vezes. Contudo, como já mencionei, nossas conversas por telefone foram muitas e essas começaram por conta da casa da praia. Nossas comunicações por meio de outras ferramentas como: e-mail, app Messenger e whatsapp comparando-se ao telefone foram bem raras, ele dizia não gostar muito principalmente de ficar digitando, ainda guardo alguma dessas.

Nossos bate papos eram de horas. Certa vez me contou como eram na sua infância as viagens para cá, dizia ele, “Dia de festa e grande expectativa”. Saiamos do Rio de madrugada, enfrentávamos uma estrada longa e ao chegar a Campos até chegar à Babosa tinhamos que enfrentar estrada de chão esburacada e muitas vezes coberta por lama. A viagem, segundo ele, parecia não ter fim e a tão sonhada chegada parecia adiada. Ele também manteve na memória os causos contados pelo vovô, a cachacinha nas refeições e muitas outras lembranças.

Quantas vezes, de sua parte, recebi elogios pela iniciativa do blog, ele queria mais, sempre sedento de histórias, curioso para saber se havíamos descoberto a origem do vovô. Ele com sua vida contribuiu muito com esse veículo. Já minha história convivência com Antônio, como na maior parte dos relacionamentos houve, pelo menos um, desentendimento, mas nada como uma boa conversa, colocamos os pingos nos “is” e nos entendemos, foi essa a única vez, comungávamos de pensamentos e de sonhos comuns.

No lado profissional, o que sei é que Antônio do ano 70 a 77 teve uma casa lotérica na Travessa Tamoio na Rua Senador Vergueiro com Marques de Abrantes. Coincidência ou não o negócio começou a dar para traz quando resolveram juntar a lotérica, uma bomboniere. Trabalhava com ele Silvio Mambreu e um outro senhor conhecido como ‘painho’, eles foram muito amigos. Painho morava nos altos da lotérica e teve também por ocasião de uma enfermidade a ajuda incondicional do Antônio. Depois só sei da casa de material de construção em Jacarepaguá.

Sandra Mambreu, Rosana e Antônio
No aniversário de 90 anos da tia Julia, o Antônio portador de diabete, mesmo com a saúde abalada se fez presente. Ao receber o convite se emocionou, essa emoção revigorou ao rever as pessoas da família e isso pode ser notada no registro das imagens do dia.

Em 2016 fizemos o nosso primeiro encontro de família, ele, infelizmente com saúde debilitada não esteve presente e eu sei o quanto sentiu.

Nas nossas últimas conversas, pude perceber sua entrega sua falta de perspectiva. Eu dizia para ele: para de bobeira, nossa família vive muito, você vai vencer e viver muito também, dava como exemplo a idade do vovô da tia Julia, mamãe, tio Thomé entre outros. Mas uma coisa o consumia, ele estava triste provavelmente se sentindo sozinho. O que havia ficado dos seus pais, uma única irmã e três sobrinhos com quem não tinham uma boa convivência, não se entendiam, a relação fora marcada por desconfianças. Muitas vezes ele me confidenciou dizendo: Que inveja tenho de vocês prima, uma família tão grande e sem problemas, seu pai morreu, não deixou um terço do que meus pais deixaram e vocês não brigaram, dividiram tudo numa boa e em pouco tempo, enquanto eu e minha irmão, minha única irmã com muito mais bens não nos entendemos. Dos meus sobrinhos só
Ana (irma) e Célio (sobrinho)
com o Célio mantenho algum contato. As outras me desconsideram.

Tenho para mim que isso abreviou sua existência. Por outro lado, não substituindo, mas amenizando, os sobrinhos de sua esposa o amavam e carinhosamente lhe chamando de: “tio gordo”.

Nascido em 11 de abril de 1943, aos 75 anos, exatamente no dia 29 de maio de 2018, Antônio Ferreira Gomes Filho, cumprindo sua missão na terra, nos deixou abrindo pelo menos em mim uma lacuna.


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

De Volta



Quando terminei de escrever a história dos filhos de João, fiz um acordo comigo mesma de só voltar a escrever sobre membros desse clã quando esses deixassem de escrever suas próprias histórias, outro ponto que considerei foi quanto ao formato.

Doravante esse blog passa a ter formato de diário, não que vá ser escrito diariamente, mas como aqueles cadernos de adolescência, pelo menos foi assim na minha, local em que relatava emoções, mas apenas como registro, poderei postar algo pesquisado ou descoberto em minhas andanças, num contexto geral será o relato de como as pessoas descritas marcaram minha história.

Infelizmente muito em breve estarei aqui já que tivemos algumas baixas tanto da segunda quanto da terceira geração.