terça-feira, 26 de novembro de 2019

Hélio Ferreira Machado


Hélio entre os filhos Jr, Heleonora, Érica e
Elisângela
Hélio Ferreira Machado. Difícil escrever essa história, difícil porque o Hélio foi uma pessoa com quem tive a oportunidade, de uma certa forma, conviver e por conviver via em sua áurea um mistério e na tentativa de desvendar esse mistério que o descrevo como: pessoa de olhar triste, meio que perdido no nada, silencioso, mas ao mesmo tempo cativante e muito atencioso. É na tentativa de apresenta-lo que saio em busca de elementos que possam confirmar ou não a percepção que tenho.

Nascido em 02 de abril de 1943, na localidade de Babosa, zona rural do Município de Campos, que Hélio, assim como os irmãos foi trabalhar na lavoura, contudo ele não se adaptou, não conseguia desenvolver o trabalho como os outros, e esses, de certa forma, o constrangiam com brincadeirinhas que o desmerecia. Se essas brincadeiras ocorressem hoje, diríamos que o Hélio sofrerá Bullying.

Aos fatos: Hélio tinha tudo para ser um garoto bonito, cabelos lisos e finos, no entanto a pele era grossa e com muitas feridas o que lhe causavam uma febrícula. Sua mãe, sempre calada, não deixava de observa-lo, isso fazia com que lhe dedicasse uma maior atenção. Muitas das vezes Maria Matilde, sua mãe, oferecia a ele uma alimentação diferenciada com pratinhos ou quitutes que não eram oferecidos ou feitos para os demais. Creio que esses cuidados eram receio de que as feridas fossem causadas por algo que comia. Ocorre que esse tratamento, diferenciado, causava nos irmãos um certo desconforto.

De nascença ou desenvolvido, não temos como saber, Hélio sofria de uma espécie de alergia a pico da palha de cana e de milho. Essa alergia foi descoberta mais tarde, na época não se sabia o que ele tinha, só se sabia que ele era “molenga” e “perebento”. Como mãe tem 6º sentido desenvolvido, Maria sabia que seu filho tinha algo e assim tentava compensa-lo com carinho e uma atenção maior o que só piorava porque despertava, nos irmãos, Ciúmes, se não em todos pelo menos em quem relatou o caso. Creio que esse foi um dos fatos que fez com que ele se fechasse.

Num determinado dia, lá pela década de 50, Amaro, irmão do seu pai numa das visitas a casa de João Ferreira e Antônia, avós do Hélio, vendo a situação do menino, convence a cunhada a deixar o menino ir com ele para o Rio em busca de tratamento. Convencer a mãe do Hélio foi tarefa difícil, para ela, separar dos filhos era algo inconcebível, mas dada a situação, acaba cedendo e o pequeno vai para o convívio dos tios.  Já no Rio trava amizade ou melhor fortaleceu a amizade com os primos Antônio Filho e Carlos Tel, na época Carlos Alberto.

Hélio recuperado da saúde permanece na casa dos tios e começa a trabalhar no armazém de propriedade da família que o recebia. Não foi um período fácil, longe dos seus pais, dos irmãos e da mãe que tanto amava.

Em novembro de 1960, sua mãe vem a falecer. As tias, Ana e Alice sem dizer nada da morte trazem o menino para Campos como se viessem fazer uma visita. Ao chegar na rodoviária de Campos encontram um conterrâneo, senhor Manoel Rodrigues, esse, sem perda de tempo lhe cumprimenta dando-lhe os pêsames. Essa recepção foi para Hélio um choque. Perder aquela que em sua trajetória era a única que o tratara com amor. Ele com apenas 17 anos, para época criança, sofreu muito. Vejo aqui uma outra hipótese, para o seu fechamento, talvez a mais forte, até mesmo porque na família dos Ferreira Machado, outros, ainda hoje guardam esse momento como uma espécie de trauma de infância.

Como dito, Hélio não veio para Campos para o sepultamento, ele fora enganado, veio como se tivesse vindo a passeio e como passeio, retornou para casa dos tios. Hélio foi o responsável, ou melhor, foi quem aos poucos levou os irmãos para o Rio, talvez para amenizar a separação, a distância, a lacuna deixada pela mãe.

Quando deixa o Rio e volta para Campos, como definitivamente não nascera para trabalho em lavoura, adquiriu o bar do Sr. José de Bilhinho, próximo a igreja num local conhecido até hoje com encruzilhada e nele começa a trabalhar.

Sua convivência com o pai não era das melhores, havia um choque de culturas. Nicodemos daquele jeitão de pessoa do interior e Hélio, com uma educação diferenciada, meio que “carioca”, o fato é que os dois não se entendiam e pequenos desentendimentos eram corriqueiros até que um desses desentendimento fora mais sério, levando Hélio a sair de casa. Hélio foi morar no bar, lugar sem a menor estrutura para se residir. Ana sua irmã, sem que ninguém soubesse, levava-lhe o almoço. A noite Hélio ia tomar banho na casa dos tios Tomé e Anita e lá comia uma parca refeição que Anita lhe oferecia e que lhe servia de jantar. O desentendimento passou, o relacionamento conturbado entre pai e filho se amenizou e a vida seguiu.

Nesse blog, nas histórias de alguns personagens, tivemos a oportunidade de relatar a fama dos Ferreira Gomes, como homens mulherengos. Hélio não fugiu à regra, durante boa parte de sua vida se relacionava com pelo menos duas mulheres de cada vez. Aqui vamos relatar casos que deixaram marcas: Hélio ao mesmo tempo que se relacionava com Vilma em Babosa, se relacionava com Rita de Mussurepe até que no carnaval de 1967, no Salão Atlântico que ficava ao lado do salão Azul (ambos extintos), Hélio se depara com uma jovem e a convida para dançar. A moça nos foi descrita como uma jovem de beleza natural, elegante, desenvolta e aparentemente muito vaidosa e para completar bem empregada, funcionária da empresa de comunicação, dai, talvez a desenvoltura. Conversa vai, conversa vem, marchinha para lá, marchinha para cá, Hélio lhe pede em namoro.

Como disse anteriormente era duas por vez. Hélio termina o namoro com a de Mussurepe (Rita) por ver na jovem moça de nome Neuza, hoje sua viúva, a pessoa perfeita para casar. Com essa determinação vai terminar com Vilma, a namorada de Babosa e é quando descobre que ela estava gravida. As coisas ficaram um tato quanto difíceis, as famílias se conheciam e o namoro havia tomado outro rumo. Como no interior, na época, honra se lavava com sangue, os irmãos da Vilma vão atrás de Hélio com ameaça velada. Mais para sorte do jovem, quem passeava na casa dos pais em Babosa era seu tio Amaro, esse novamente entra em cena só que desta vez com o cunhado Manoel Francisco. Amaro e Manoel Francisco, juntos, saem em busca dele, achando, levam-no até a rodoviária onde deveria embarcar para o Rio.

De volta ao Rio. No dia 04 de janeiro de 1968, nasce em Campos/Babosa sua primeira filha, Heleonora Gomes de Souza. Completado um ano que estava no Rio, período que não deu notícias, pelo menos não deu para a jovem Neuza que fielmente permaneceu esperando por ele, Hélio é convocado para uma audiência em processo arrolado pela mãe da pequena. Antes da audiência começar, Hélio pede para falar com a mãe da menina, esses se retiram da sala e quando voltam a autora diz querer retirar a queixa e retira. Mas antes de retornar ao Rio, Hélio vai conversar com os pais de Neuza e expõe suas intenções para com a filha deles. Depois disso retorna ao Rio onde permaneceu por mais 3 anos totalizando um total de 4 anos.

Com a fama dos Ferreiras de namoradores, não é difícil imaginar que ele durante o tempo que ficou no Rio não ficará sozinho, sem dúvida ele havia arrumado alguém. Embora estivesse com outras mulheres, sua intenção permanecia a mesma, mudar de vida e se casar com a Neuza que por ele esperava.

Em 1970, exatamente no dia 02 de junho, Maria, uma amiga da família da Neuza vai levar a filha e Neuza para uma tarde dançante no Club da Usina São José em Goytacazes, Localidade em que ela residia. No caminho a Maria fala com Neuza sobre o noivado e ela sem saber de nada interroga: Que Noivado? A resposta foi simples: o seu e complementa dizendo que Hélio estava exibindo um anel de noivado e que estava dizendo que iria pedir a mão dela em casamento e foi o que aconteceu naquele 02 de junho, Neuza e Hélio ficaram noivos. Um ano e pouco depois, exatamente no dia 25 de setembro de 1971 eles contraíram bodas.

O casal fixa residência numa casa pertencente aos avós de Dulce esposa de Aloísio (irmão do Hélio),
Hélio, o neto e André
casa, diga-se de passagem boa, próxima do hospital Municipal Paulino Verneck na Ilha do Governador. Neuza morando em Campos contou com a cunhada Marina para arrumar a casa do casal e com Manoel Francisco para fazer sua mudança. Hélio agora casado, decidido a levar uma vida de homem sério busca uma maneira de terminar com a mulher com a qual vinha mantendo um relacionamento. A mulher, como era de se esperar não aceitou a separação passivamente, eles travaram uma discussão. Maria do Carmo não se conformou e pior, acabou gravida dando à luz ao menino que recebeu o nome de André Gomes dos Santos. Décadas depois Hélio Coloca seu nome na certidão do Filho que passa a se chamar, André Gomes dos Santos Machado.

O primeiro ano de vida do André não foi fácil. Quando André estava com aproximadamente 1 ano e 3 meses, Maria do Carmo, resolve deixar o filho com a família do Hélio entregando o menino para o Aloísio que por sua vez, entregou para a irmã Ana que o criou com a ajuda de outros irmãos, principalmente de Irene. Pouco tempo depois ela veio a falecer.

Não sabemos e provavelmente não saberemos se Maria do Carmo amava o Hélio, se era sentimento de posse, frustração por ter perdido ou outra coisa qualquer o que se sabe é que ela não se conformou com a separação. Coincidentemente nesse período a vida do casal, Neuza e Hélio mudou da água para o vinho. Algo muito estranho acontecerá, a transformação era visível. Neuza mulher vaidosa, atraente, desenvolta, como uma flor tirada do galho começou a murchar, se descuidando, perdendo a vaidade. Do outro lado, Hélio que já não era muito de conversa, cada vez mais se fechava.

Em novembro de 1973, Neuza tem seu primogênito o qual dá o nome do pai, Hélio Ferreira Machado Júnior, conhecido por nós como Juninho. Em 75 nasce a filha do meio do casal Érica e em 77, Elisângela, ambas Silva Machado. Hélio nessa época caminhoneiro traz a família para passar o verão na praia do Açú e de lá leva-os para morar em Marreca. Aqui dá para se imaginar, se a sua esposa vinha se descuidando, agora em Marrecas, longe de tudo não daria outra, cada vez mais se percebia a transformação. Dali foram morar ao lado da casa do pai em Babosa, local onde nasceu as mais novas. Depois mudam-se para Farol onde a família reside até hoje.

Os dias, os anos passando e a situação sem mudar, onde foi parar aquele homem apaixonado, onde se escondeu aquela mulher vaidosa? Que coisa estranha acontecerá ou acontecia com o casal?

Residindo em Farol com esposa e três filhos, Hélio sempre ia Babosa ver a filha Heleonora e sempre que dava, levava a menina para passar o fim de semana com ele e os irmãos.  Lá pelos idos de 1979 a filha vai viver na casa do pai onde só saiu depois de casada. Aqui cabe uma ressalva, porque Hélio não colocou seu nome na sua primogênita? Nós contamos: a mãe da menina, com receio que o pai levasse a pequena, não deixou que ele a registrasse, que colocasse seu nome na certidão de nascimento, mas por obra do destino, com 11 anos Heleonora escolhe viver com o pai.

Relacionamento com os filhos: Hélio sem dúvidas os amou. Ele sempre foi muito farturento, de modo que nada faltava para a família, nada faltava!!! Na questão dialogo faltou conversa, bate papo, entrosamento, o estar mais presente, mas embora faltasse o bate papo. Quanto ao tratamento dispensado aos filhos, era igual? Na questão material sim, mas igual, igual não foi. Na questão afetiva, foi muito carinhoso, mas o carinho não fora igual para todos, uma das filhas visivelmente fora discriminada, mas isso foi superado e o patinho feio virou cisne.  Com a esposa, o relacionamento continuava o mesmo, embora no mesmo ambiente, entre os dois havia uma grande distância.

Para complementar o quadro referente ao comportamento conjugal, certo dia em Farol, surge uma mulher aparentemente elegante provocante, chamando a atenção dele sobre si. Essa lhe pergunta se ele não estava lhe reconhecendo. Ele responde que não e ela mediante a sua negativa se revela dizendo ser a ex-namorada de Mussurepe. Essa mulher foi o inferno na vida do casal. A esposa indignada o expõe. Em contra partida ele como numa pirraça afronta a esposa. Nessas de afrontas, no início da década de 80 nasce uma menina que entendo por pura provocação, recebe o nome de Elisângela.  Nome da sua filha, até então caçula.  Aqui uma interrogação, porque Hélio não contestou, duas filhas com o mesmo nome!

Ficamos sem resposta e não vamos a fundo porque a história aqui contada é do Hélio e não de outra pessoa. O envolvimento com essa mulher durou um bom tempo e só acabou por volta do nascimento do neto Caio. Nesse período as viagens para o Rio diminuíram e as poucas vezes que voltou ficou na casa dos irmãos. Hélio deixou de procura-la. Foi ponto final na história. Hélio como filho prodigo começa a voltar sua atenção para a família, lugar que mesmo com tantas idas, era seu porto seguro.

Esse retorno, esse olhar para os seus iniciou com o nascimento dos netos, destaco aqui Daniel filho do Júnior a quem ele amava, mas infelizmente não soube demonstrar, o retorno se solidificou com o nascimento de Caio e o bisneto Rian, neto de sua filha mais velha. Usamos a expressão solidificou, porque família, carinhoso, prestativo, Hélio sempre foi. Fátima esposa do seu irmão Francisco, confirma isso relatando com muito carinho a disponibilidade que ele sempre teve para com ela. Segundo Fátima ela o tinha como sogro. Ela conta que quando trabalhava fora, com os filhos ainda pequenos, deixava-os com a família do Hélio e ele tratava suas crianças como netos. Outro fato que guarda em suas memórias, está relacionado as inúmeras vezes que precisava de algo e com o esposo trabalhando distante de casa, na roça e sem comunicação, era a ele que recorria e ele nunca lhe disse não. Essa presteza era tão presente que aproximadamente 15 dias antes do seu falecimento, lá esteve ele em seu socorro.

Neuza, Sabrina, Daniel e Hélio
Hélio foi uma pessoa apaixonante, ao longo de sua vida fez vários amigos, para registrar cito: Ailton, Almi, Amaro Nagibi, Chiquinho Neto, Gabriel, Osvaldo entre outros. Entre esses outros destaco seu irmão Nivaldo e Márcia, nora do Sr. Ailton. Márcia, assim que casou, fora morar na mesma rua tornando-se amiga da família, especialmente do Hélio a quem ele devotava confiança. A amizade fora tão grande que a Márcia convidou o casal Hélio e Neuza para batizarem sua filha do coração, Sabrina. Sabrina por sua vez, apaixonada pelo padrinho, ainda hoje, não superou essa perda, assim como o neto Caio, cuja a perda provocou abalo emocional a ponto de trazer consequência na ordem física. Quando Hélio teve o primeiro AVC Márcia esteve ao seu lado assim como teve nos outros dois, mas destacamos aqui a presença das filhas Érica e Elisângela que foram incansáveis.
Foi com muita tristeza que vi vc partir deste mundo, mas é com toda certeza que digo que jamais partirá do meu coração. Você foi como um pai para mim [...], lembro quando te disse que ia dançar valsa cntg nos meus 15 anos e vc ficou todo feliz, e agr? [...] a morte levou você, todos sabemos que um dia é esse nosso fim e dos que amamos, mas ninguém está preparado para tão grande dor, ela roubou você de mim, mas nossa história, todas as lembranças que guardo ela não levará NUNCA 💔 [...] uma parte de mim se foi TE AMAREI💔😪💔💔 ETERNAMENTE, SAUDADES ETERNA 💔😪 Meu Padrinho, Pai e Heroi 😪 💔 (PESSANHA, Sabrina. Trechos do depoimento. Jun. 2018.).    
Muitos foram os relatos a respeito do Hélio e todos unanimes em descreve-lo como pessoa de semblante triste, com ar perdido, mas amoroso, prestativo e muito querido, não conheci ninguém com quem ele tivesse tido algum desafeto. Uma das irmãs do seu pai Appolônia contou que bastava acenar com algum pedido que lá estava ele pronto a servir, conta também que toda vez que passava por Babosa parava para saber como estava, se estava na casa da praia, o mesmo ocorria, ele cuidava.

Numa de suas inúmeras lembranças, Appolônia conta de um problema de apendicite que Hélio ainda solteiro teve, isso quando morava no Rio. Enquanto esteve hospitalizado era ela quem levava o almoço feito pela tia de nome Ana. Numa dessas idas usou uma bolsa que estava sem dinheiro. Ela havia emprestado a bolsa para uma amiga e essa tirou do interior suas coisas para colocar as delas, ocorreu que ela devolveu a bolsa, mas não colocou no interior o que havia retirado. Resultado, Appolônia foi levar o almoço sem dinheiro para o transporte e só se deu conta na hora de pagar. Sorte que na época existia confiança, bastava dizer que pagaria na volta que estava tudo certo e foi o que fez. Pediu o valor a Hélio que mesmo acamado emprestou sem pestanejar e a condução foi paga e a Hélio devolvido o valor no dia seguinte.

Eliza, também tia do Hélio, irmã do seu pai, por muitas vezes, vi relatar o quanto devia a ele. Quando seu esposo esteve internado no HPC ele por várias noites passou com seu marido, gratidão que não poderá pagar, ficará devendo para sempre essa atenção.

Falando de atenção, Josiel (sobrinho) conta do tempo que trabalharam juntos em barco de pesca. Provavelmente muitas foram as aventuras no mar, mas o que mais marcou foi o fato de Hélio ser muito brincalhão e ao mesmo tempo carinhoso e preocupado. Numa das vezes (foram duas), em que o barco ficou à deriva. Hélio em suas brincadeiras, tocava terror na tripulação e ao mesmo tempo, num canto tranquilizava o sobrinho que nessa época tinha aproximadamente dezesseis anos dizendo que o socorro já estava vindo. A preocupação com o sobrinho também ocorria com a alimentação, ele queria saber se já havia se alimentado e se preocupava muito com isso. Outro fato que marcou Josiel e provavelmente também marcou outros sobrinhos era que por ocasião das festas natalinas ele carregava todos para sua casa em Farol para festejarem o dia.

Hélio sempre gostou de festa, reunião de família e amigos, gostava de um bom prato e futebol. Por falar em futebol, num dos natais em que levou toda criançada para sua casa, ele deu de presente, para todos os filhos e para os sobrinhos, camisa do Flamengo. Josiel, com apenas 9 anos ficou meio que frustrado, ele era vascaíno e pelo jeito teria que se contentar com a camisa do Flamengo, mas não, em meio a tantos vermelho e preto eis que surge a camisa do Vasco e junto o carinho subentendido no: ‘não me esqueci de você’. Hélio era flamenguista e eu fico aqui pensando como seria a sua reação, se aqui ainda estivesse, se vivesse o que vivemos nesse fim de semana Libertadores e campeonato brasileiro (Nacional)!

Josania sobrinha, menciona a atenção do tio para com os sobrinhos, do carinho com sua mãe por ocasião da enfermidade do seu pai. Lembra das noites que Hélio, seu pai (José), seu esposo Bento e o amigo da família de nome Talvane varavam a noite jogado jogos de carta e apostando doce de pêssego em lata.

Heleonora sua primogênita conta do carinho com a qual era tratada e fala com entusiasmo do casamento em que o pai fez de tudo para que tudo saísse perfeito. O belo almoço, da quantia em dinheiro para que comprasse todo o enxoval, e esse, foi adquirido no rio com ajuda das tias Ana e Irene, do bolo de casamento e da festa e acrescenta o carinho que tratava seus filhos e por fim seus netos. Aqui acrescentamos uma frase de Caçulinha, a pessoa que fez o bolo (3 andares de bolo) e os doces. Hélio preocupado pergunta se daria, e ela lhe responde com outra pergunta: Você convidou o Farol inteiro?

A História de Elisângela com Hélio é intrigante, quando ela começou a namorar Cristiano, seu esposo, Hélio fora totalmente contra. Chegou a me relatar a preocupação de não dar certo, da filha vir a sofrer, ele temia porque o rapaz além de já ter sido casado tinha uma filha pequena. Intrigante porque parecia não amar essa menina, mas se preocupava.

Elisângela, mesmo a contragosto do pai, não desistiu e seguiu em frente, entre namoro e noivado foram 10 anos, período que deu para quebrar o gelo a ponto de ele permitir que eles construíssem na sua laje.  No casamento de Elisângela foi oferecido um almoço. Hélio nesse dia pela manhã foi para roça deixando a família sob tensão. Havia o medo dele não comparecer, mas ele compareceu e entre familiares e amigos se confraternizou.

Hélio e Caio
Três anos depois nasce Caio, a quem chamo de resgate. Todo amor que não fora dado a filha veio em abundância para o filho dela. Hélio teve outros netos foram um total de 6 filhos, 8 netos e 5 bisnetos, isso é o que sabemos. Mas todo o amor que tinha foi exposto e expressado em Caio. O sentimento era tão intenso que o menino parecia não ter casa, era com o avô que dormia, era com o avo que andava, Hélio ensinou as primeiras coisas, era ele que pegava na escola e tantas outras coisas. Seu amor se concentrou no filho da Elisângela.

A história do Hélio, história de vida, foi bem conflitante. Hélio foi visto, e por muitos intitulado como namorador, levado e outros adjetivos e ao mesmo tempo foi amado e admirado por todos aqueles que o conheceram da mesma forma que amava e cuidava dos seus e dos que estavam a sua volta. Eu particularmente o admirava muito a ponto de descreve-lo como caixinha de surpresa e para minha surpresa, nas minhas andanças em busca da sua história, descubro que ele me considerava, fato que muito me gratifica, mas não me envaidece. Depois de tantos relatos, concluo que seu carinho, sua atenção não era especial nem privilégio de ‘A’ ou ‘B’, isso era parte do seu caráter, do seu ser.

Nos últimos anos de sua vida ocorreu o seu resgate conjugal, o clima com sua esposa mudou totalmente, a família gritou mais alto, e família, mesmo com todos os atropelos é uma das características das nossas, tanto é que a notícia do falecimento do primo Antônio o deixou numa tristeza profunda. Com menos de um mês da partida do primo de quem ele gostava muito, exatamente no dia 24 de junho de 2018 Hélio Ferreira Machado deixa esse plano, mas sua história não termina aqui, ela continua, agora escrita por seus filhos e netos.


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