quarta-feira, 26 de outubro de 2011

João é Contra Matrimônio de Maria

Maria Ferreira Gomes, uma das filhas de João Ferreira Gomes, viveu a maior parte de sua vida na localidade de Campo de Areia no Município de São João da Barra onde ficou conhecida como “Sinhora”. Maria, como a maioria dos filhos de João e como já citado aqui era dona de uma personalidade forte. Também fazia parte do seu caráter à teimosia.

Ilustrarei a personalidade de Maria com alguns causos por ela vividos. Conta-se que esta ainda criança por muitas vezes se recusou a fazer o que pediam e para não se ver obrigada a fazer o que não queria, se escondia dentro de um cocho (objeto usado para colocar água para gado), onde por vezes foi encontrada dormindo.

Outro causo: Todos os membros da família usavam preto por conta da morte de um ente querido. Numa de suas birras, Maria se recusou a tirar o luto para dormir. Ponderaram dizendo que acontecia isso, acontecia aquilo com os que dormissem usando tal vestimenta. Ela destemida como o pai se recusou e foi dormir sem se trocar. Aconteceu que no meio da noite acordaram com o choro de Maria que se encontrava no meio da sala aos prantos e pasmem, sem vestimenta. Procuraram em vão por toda casa as roupas. Dias depois as peças foram encontradas entre os espinhos dos galhos de uma árvore que uns dizem ser “amarelinha” árvore cuja seiva era usada em feridas como curativa e cicatrizante, esta planta está extinta na região. Já outro conta que foram encontradas entre os espinhos dos galhos de um pé de quixaba. Há pontos comuns nos relatos, as árvores, de diferente espécie, tinham espinhos e seiva.

Maria costumava infernizar todos que estavam a sua volta. Num determinado dia tentou tanto Antônio, irmão dois anos mais velho, que esse se armou com uma cobra (réptil) e lhe deu uma surra. Naquela época essa espécie era encontrada com facilidade, hoje, ainda existe, porém em menor escala. Maria levou uma surra de cobra, contudo Antônio nem Maria se encontram mais entre nós para dizer se a cobra estava viva ou morta.

Maria quando moça se encantou com Alberico Gomes da Silva filho de Cândido Manoel da família dos Manoel e iniciaram namoro. Seu pai era totalmente contra. João Ferreira não queria ter uma filha unida ao filho de um homem que ao adentrar numa casa noturna (salão com música, local de dança onde eram realizados os chamados bailes), enchia a boca para dizer: “Quem tem vitela que prenda, pois meus garrotes estão soltos.” João não tolerava a ideia de ter filhas chamadas de vitela. Moral da história, Maria teimosa do jeito que era, contra todos, casou-se com Alberico Silva.

Maria  aos 88 anos/2001
João construiu uma casa em Campo de Areia e Maria depois do casamento foi morar lá com seu esposo. Eles tiveram oito filhos duas mulheres e seis homens, a saber: João José, Maria Ana, Carlos Alberto, Manoel Jonas, Maria das Graças, Amaro Wilson, Manoel Francisco e Arlindo, todos Gomes da Silva. Aproximadamente um ano após o nascimento de Arlindo, filho mais novo, ficou viúva. A vida não foi fácil para está mulher que se viu só, com 8 filhos pequenos e sem apoio da família já que seu casamento se deu sem a aprovação do pai.

Muitas pessoas temem a morte. João temia e com Maria não foi diferente. Maria passou um tempo, por conta de uma fratura, em nossa residência. No quarto que ficou havia numa das paredes figuras que ficavam florescentes quando as luzes eram apagadas. Lembro-me que assim que íamos dormir, quando toda casa fica no escuro, ela começava a gritar, íamos até ela e depois de acalma - lá, voltávamos para nossos leitos e a gritaria recomeçava. Bom o quê acontecia era fruto do medo ela acreditava estar sendo levada para o espaço, por conta das figuras estrelar, acreditava está morrendo. Por outra vez tive na casa de um dos seus filhos, Arlindo, onde ela se encontrava, para colher um depoimento que seria apresentado nas bodas de ouro de seu irmão Thomé, isso lá pelos idos de 2000. Maria ficou simplesmente muda diante da câmera, tentei por varias vezes obter uma palavra que fosse, mas nada. As únicas palavras que consegui foram com a câmera desligada, disse ela: “Amaro fez isso com meu pai gravou a voz dele e ele morreu”. Maria tinha tanto medo da morte como tinha seu pai que viveu impressionado com a revelação de uma tal cigana.

Maria como uma boa Ferreira conseguiu dar volta nas adversidades. Com simplicidade criou os filhos e a exemplo do pai construiu um pequeno patrimônio. Vivendo apenas da agricultura comprou aos poucos terras vizinhas. Também por ocasião do matrimônio dos filhos levantou para esses um teto, é certo que Maria contou com a ajuda dos filhos, mas isso só vem confirmar a tese de que com família unida se vence, e, Maria venceu foi uma verdadeira e grande matriarca.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Consequência da Confiança



Origem do Nome:
Num tempo atrás antes da década de 30 os registros, principalmente no interior, não eram tirados na infância, levava-se um bom tempo para a ida ao cartório, até porque não era solicitados. O registro só era tirado quando cobrado, o que para os homens, só acontecia por ocasião do alistamento e para as mulheres, na maioria das vezes, por ocasião do matrimônio.

No início da década de 30, esse quadro foi mudado, o documento passou a ser tirado logo após o nascimento, nos primeiros anos ou primeira infância.

O que mudou foi a exigência do registro, da certidão de nascimento. No que se refere cobrança do documento, não houve alteração. Os pais iam a escola, deixava o nome do filho, e como na época, no interior, o que ainda hoje, não mudou muito, todos se conheciam, com isso o documento era dispensado. Apenas o nome pronunciado era suficiente para que o candidato tivesse a matrícula escolar garantida.

Dentre as muitas coisas ensinadas, o nome era uma delas. Os alunos diziam o nome e quanto ao sobrenome, repetiam o que os irmãos mais velhos costumavam pronunciar ou o nome que algum adulto pronunciava, muitas vezes aquele dito na pia batismal.

Hora do registro:
Ao chegar ao cartório falava-se o nome do registrando, nome dos pais, data de nascimento. Em muitos casos, a data de nascimento, o que não aconteceu com os filhos de João, não era a correta. Havia casos que a data apresentada era por conveniência, outras por esquecimento... Por muitas vezes os registros ficavam por conta dos padrinhos que davam ênfase ao sobrenome daquele que lhe era mais próximo. Neste emaranhado de situações encontramos pessoas cujo sobre nome ora são só do pai, ora só da mãe, ora primeiro do pai e segundo da mãe quando o correto é:

nome + sobrenome da mãe + sobrenome do pai = nome completo



Isso acarretou em muitas famílias sobrenomes errados. Na família de João Ferreira Gomes não foi diferentes, nela encontramos diversos sobrenomes tais como: Gomes da Silva, Ferreira de Jesus - (pai e mãe); Ferreira – (apenas parte paterna); Rosa de Jesus – (só parte materna); Ferreira Gomes – (só paterno). O próprio João só tinha o sobrenome da mãe: Ferreira Gomes de Ana Ferreira Gomes.

Nesta história maluca, o que se sabe é que todos os filhos sem exceção foram para a escola como Ferreira Gomes e os que não eram Ferreira Gomes só descobriram por ocasião do alistamento, casamento e outras com o título de eleitor.

Com referência "Consequência da Confiança" título dado: João Ferreira Gomes contava que o erro aqui mencionado se dava por conta do Cartório. Dizia ele que deixava o nome no cartório e o tabelião colocava o que queria. Será!!!  Será que João inteligente como só ele, deixaria passar esse erro sem que exigisse uma retificação?  

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Filhas não aprovam matrimônio do pai


Como já colocado Alzira e Maria sentiam ciúmes do pai. Com isso, a união de João com Antônia não foi bem aceita por elas. As duas, cada uma com suas particularidades, não facilitaram em nada a vida de Antônia. 

Maria era atrevida com personalidade marcante bem próxima da do pai. Fazia birra e gingava a quase todo instante. Birra e ginga foi a maneira que Maria encontrou para conseguir o que queria. João não fazia birra, mas sabia como e o que fazer para obter o que queria, porém se levarmos em consideração as idades teremos por um lado, João, homem feito, por outro, Maria, criança/adolescente. Também não se pode afirmar que João, sob as mesmas condições, não agiria da mesma forma, resumo, com birra ou sem birra Maria era toda, o pai.

Alzira o oposto, meiga, doce, roubava sempre a cena, atraia para si toda atenção de João. Assim sendo conseguia todas as mordomias. Andava sempre bem arrumada, bem vestida era a "princesinha do papai".

Cada uma, a sua moda, queriam ser a dona do “pedaço”. Não conseguindo o intento arrumaram suas coisas e mudaram para a casa de Nicodemos, foram morar com o casal. Lá também fizeram investidas na tentativa de tomar o lugar de Maria Matilde, não no coração do irmão. Elas queriam o lugar de donas da casa. Maria Matilde, também dona de forte personalidade, não deixou nem por instante que seu lugar fosse ameaçado. Resultado: Alzira e Maria não conseguindo objetivo voltaram para casa tendo permanecido lá pouco tempo.

Filho de Maria

No entanto, o fato de Maria e Alzira terem sido contra a presença de Antônia no seio da família, teve os dias contados. 

Alzira, Maria e outros filhos reconheceram e aceitaram Antônia como membro da família. Este reconhecimento foi registrado em forma de dedicatória no verso de algumas fotos. Foto com dedicatória eram usada como forma de presente. Antônia e João receberam vários desses mimos. Outro detalhe, a aliança de Antônia foi presente de Manoel (Silva), o filho mais velho de João.

Não se sabe a que atribuir a mudança de comportamento das duas, talvez tenha sido a maternidade. As duas casaram, cada uma a seu tempo. Foram mães extremosas e dedicadas. Quem sabe se a descoberta do sentimento que envolve a relação mãe e filho tenha contribuído. Provavelmente quando ambas se viram neste papel, abrindo mão de coisas em prol dos filhos tenham percebido a grandeza do gesto de Antônia.


Neta de Alzira

Antônia abriu mão da mocidade em prol de crianças que não eram suas, dividiu atenção, amor e carinho. Responsabilizou-se, adotando como dela, sete crianças de uma só vez. A que atribuiremos o ato de Antônia? A beleza de João, ao seu dinheiro? Não. Por vezes ouvi João repetir que Antônia dizia: “Lá vem João, magro, velho e feio montado numa égua preta.” Então imputaremos tal atitude a que, ao amor?

Não cabe a ninguém e nem tão pouco é o caso, julgar o comportamento e atitude de Alzira e Maria, este tipo de “coisinhas” acontece, e é muito comum, porque isto é ser família e esta é "Família Ferreira Gomes".

Obs.: Maria ficou conhecida como Maria Ferreira para uns e para outros, "Sinhora".


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Confusão no Casamento de João


João foi conviver com Antônia por volta de 1921, mas só no início da década de 40 foi que Dom Pedro Bandeira de Melo realizou a cerimônia, junto a do filho Nicodemos com Maria Matilde e do Senhor Faustino com Dona Paulina.

Tudo arrumado para o grande dia. Dentro dos preparativos estava incluído recital de poesia, contudo a cerimônia não transcorreu num clima de paz, houve discórdia. O desentendimento ocorrido não ficou por conta da famosa frase dita pelos celebrantes nesta ocasião: “Há alguém entre os presentes que tenha alguma coisa que impeça este casamento, que fale agora ou se cale para sempre?" Nem tão pouco foi por conta das filhas Maria e Alzira. Como é sabido, filhas mulheres, geralmente tem ciúmes do pai e mesmo sendo este o caso das duas, não foi o motivo.

A confusão se deu por conta de Alice filha do casal João e Antônia com Estelita filha dos vizinhos, Dona "Cota Amaral e do senhor Zé Elias". Ambas queriam recitar o mesmo poema “O Pássaro Cativo”. Não bastando o desentendimento,  a confusão arrumada pelas duas, Estelita caiu em pranto e chorou por horas a fio por não ter conseguido lembrar a poesia que se encontrava no livro da segunda série que serviu para todos os filhos de João. Na época os livros eram usados por todos o que significa que esses não eram efêmeros como são em sua maioria nos dias atuais.

A apresentação ficou por conta da vencedora deste duelo, Alice, que majestosamente fez a declamação.
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A poesia escolhida, Bilac, mostra o bom gosto eminente no sangue dos membros desta família. Esta é ainda hoje recitada por pelo menos uma das filhas. Elisa, que na época, ainda bem pequenina gravou na memória e na retina a obra deste grande mestre.


O Pássaro Cativo


Arma num galho de árvore um alçapão;
E em breve uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dar-lhe então uma esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dar-lhe alpiste e água fresca, ovos e tudo:
Mas mesmo assim o pássaro continua mudo
Arrepiado triste, sem cantar?
Oh! Criança,
Os pássaros não falam.
Gorjeando apenas sua dor exalam,
Sem que o homem possa entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os seus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre que voar me viste;
Solta-me, quero sol!
Quero o ar livre e o perfume da floresta!
Quero o esplendor da natureza em festa!
Quero cantar as pompas do arrebol!
Quero ao cair da tarde,
Soltar a minha tristíssimas cantigas!
Porque me prendes?
Solta-me covarde!
Não roubes a minha liberdade...
Deus me deu por gaiola imensidade:
Quero voar! Voar!...”
Essas coisas o pássaro diria,
Se pudessem o pássaro falar
E a tua alma, criança, sentiria esta imensa aflição:
E tua alma tremendo, lhe abriria
A porta da prisão... 

A obra  aqui colocada é a registrada na memória de uma das filhas de João presente na cerimônia e que aprendeu ou decorou do livro didático usado por todos como já citado. 

Caso queira conhecer a poesia de Bilac do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ na integra acesse aqui.