terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Francisco Gomes da Silva



Por algum tempo busquei informações sobre Francisco Gomes da Silva, mas o resultado não foi o esperado. Não desistindo sua história será contada sob os registros de minha memória.

Em março de 1956 do casal Maria Ferreira Gomes e Alberico Silva nasce o menino que recebe o nome de Manoel Francisco Gomes da Silva. O menino ficou conhecido, na localidade Campo de Areia, como: Francisco de Senhora ou Francisco de Maria Ferreira.

Francisco teve uma vida breve em 02 de maio de 2000, trabalhando, sofre um acidente, uma fatalidade que lhe custa a vida. Com apenas 44 anos, vitima de um choque morre  eletrocutado.

Sua breve vida, deixa registrado, pelo menos em minha mente, marcas de sua existência. Com vida pautada no trabalho braçal, lavoura. O comportamento de Francisco foi um misto. Com doses de timidez, ousadia, leveza e desprendimento sua personalidade foi traçada.

Desprendido, responsável tinha sede de vida. Acalentava o sonho de casar, de constituir família, de seguir os passos dos irmãos. Por um bom tempo foi companheiro de Arlindo, seu irmão caçula, nos divertimentos e nos bailes das noites de sábado.

Quando menciono timidez, me refiro, não sei se com todos, pelo menos comigo e com os de minha casa, a um dado especifico, a saudação, cumprimento conhecido como aperto de mãos. Era um tocar de palmas e dedos não havia o entrelaçar, o aperto, fato ainda existente em alguns membros desta família, quem sabe uma característica uma forma de não se entregar. Por outro lado, gostava de dançar ou se dizia um valsista. Frisava que se a dama recusasse o cavalheiro, não poderia aceitar o convite de mais ninguém o que significava para essa, o fim da noite. No entanto o importante aqui não é se ele conseguia parceiras, se dançava ou não. O relevante é que gostava de dançar, ato onde o contato físico é mais íntimo o que contrastava com o cumprimento de mãos utilizado. Timidez ou ousadia, um mistério.

Nas poucas vezes que estive na casa da tia Senhora, era assim que tratávamos a tia Maria, sua mãe, saía em busca de frutas silvestres mais precisamente, pitanga, fruto vermelho de ácido adocicado  com fragrância exótica e marcante, lembrando flor. Francisco era um dos que me acompanhava.

Pitangas
Certa vez por ocasião do casamento de Arlindo, seu irmão ele me procurou pedindo que o auxilia-se na compra do traje. Não sei se ele foi testemunha só sei que fomos em busca da “beca” nas melhores lojas do ramo. Coisa idiota, preconceituosa aconteceu, foi fato. Talvez, devido a sua simplicidade seu jeito matuto, o que não justificava, houve discriminação. Porém foi deleitoso passarmos com as sacolas da loja, na época, auge da moda masculina na cidade, “Pontion” e ver a cara dos vendedores diante da perda da polpuda comissão. Prazeroso também foi ver, no apogeu do cheque, o maço de dinheiro utilizado para o pagamento.

Desprendimento.

Pouco tempo depois na casa da tia, chega da lida, Francisco vestido com uma das peças compradas, a camisa caríssima e eu, num arroubo, espantada digo:

__ Francisco você está trabalhando com essa camisa?!

Ele me responde com sorriso.

__ Vou deixar no guarda-roupa!

__ Ela tem mangas, me protege.

Não foi na hora, mas Francisco me ensinou uma máxima, as coisas só têm valor se puderem e enquanto te servirem.

 Outro fato que me recordo é no tangente ao limoeiro plantado ao lado da casa, dizia ser limão branco, acredito que era limão siciliano. Ele colhia os limões num encantamento demonstrando amor pela terra, pela natureza.

 Esse foi Francisco um homem que não sei dizer se vivia uma realidade ou fantasia, talvez, numa corda bamba entre o real e o imaginário. Acredito que os que puderam ou tiveram o prazer de desnudar sua alma tem em memória um  “ best seller”.