quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Antônio Ferreira Gomes Filho



Não gostaria de estar escrevendo essa história, se escrevo é porque a história de Antônio Ferreira Gomes Filho teve um ponto final.

Antônio, nasceu numa família pequena, composta pelo pai (tio Ferreira) a mãe Valdimira e a irmã Ana. Antônio casou-se com Luciene, o casal não teve filhos, um paradoxo para quem amava família, mas a vida tem dessas coisas.

Luciene (esposa), e Antônio
Poucos foram nossos contatos presenciais, creio que dá para contar nos dedos dá mão, no entanto, nossas conversas por telefone pareciam não ter fim.

Dos encontros presenciais, na fase de criança, tenho poucas recordação, talvez pela diferença de idade, na realidade só lembro de uma vez em que ele esteve na casa do vovô com os pais, um tio chamado Manoel Dias e a tia irmã de sua mãe tratada por Xixita e o primo Manoelzinho com a namorada. Dessa família tenho uma vaga lembrança, mas não me esqueci da fisionomia da namorada do Manoelzinho, linda, cabelos escorridos e que me fazem até hoje associar a Ilze Scamparini, jornalista correspondente da rede Globo na Itália.

Embora não me recorde, tenho conhecimento que ele esteve presente no aniversário de 90 anos do vovô, me recordo também que ele gostava muito de fotos e registrava todos os momentos, coisa muito chic, afinal quem naquela época possuía máquina fotográfica? Fotos era seu passatempo predileto. Depois dessa data, levou um bom tempo sem aparecer, até que um dia, relatado por tia Appolônia, apareceu em sua porta, num carrão um homem lindo. Esse homem era ele e Antônio era lindo realmente, embora gordinho para nossos padrões era detentor de uma beleza singular tanto plástica como de interior.

Falando em beleza interior, provavelmente poucos foram os que precisando não contaram com sua solidariedade. Com certeza os que o procuravam não saiam como se aproximaram. Quanto Antônio ficou sabendo que a tia Alice sofria de Alzheimer ele passou a ligar com mais regularidade para obter notícias. Era a forma que tinha de dar atenção. Essa doença neurodegenerativa, por conta da enfermidade da sua mãe, o marcou muito. Ele se compadeci de todos que sofriam da mesma. Contava que havia sido marcado profundamente por ocasião de uma cena presenciada. Ele havia visto sua mãe olhar-se no espelho e perguntar quem era aquela mulher. Isso o chocou tanto que toda vez que se mencionava alguém com o problema ele relatava a cena.

Posso falar também dos meus pais que tiveram dele, por ocasião da enfermidade e morte de minha irmã, toda ajuda possível, tanto dele quanto do pai. Como agradecimento meus pais deram minha irmã para ele batizar. Lembro-me desse dia, dia do batizado da Rosana. Confesso que não me lembro do batizado em si, mas lembro, que aos meus olhos de criança, ele comia muito, lembro que numa refeição ele tomou uma coca-cola família e comeu um abacaxi sozinho.

Bate papo no messsenger
Depois dessas vezes só me lembro de mais três, uma por ocasião da morte do José Machado outra, um ano depois, no enterro de Nico filho do José e a terceira por ocasião dos 90 anos da tia Júlia. Não me lembro de ter estado com ele outras vezes. Contudo, como já mencionei, nossas conversas por telefone foram muitas e essas começaram por conta da casa da praia. Nossas comunicações por meio de outras ferramentas como: e-mail, app Messenger e whatsapp comparando-se ao telefone foram bem raras, ele dizia não gostar muito principalmente de ficar digitando, ainda guardo alguma dessas.

Nossos bate papos eram de horas. Certa vez me contou como eram na sua infância as viagens para cá, dizia ele, “Dia de festa e grande expectativa”. Saiamos do Rio de madrugada, enfrentávamos uma estrada longa e ao chegar a Campos até chegar à Babosa tinhamos que enfrentar estrada de chão esburacada e muitas vezes coberta por lama. A viagem, segundo ele, parecia não ter fim e a tão sonhada chegada parecia adiada. Ele também manteve na memória os causos contados pelo vovô, a cachacinha nas refeições e muitas outras lembranças.

Quantas vezes, de sua parte, recebi elogios pela iniciativa do blog, ele queria mais, sempre sedento de histórias, curioso para saber se havíamos descoberto a origem do vovô. Ele com sua vida contribuiu muito com esse veículo. Já minha história convivência com Antônio, como na maior parte dos relacionamentos houve, pelo menos um, desentendimento, mas nada como uma boa conversa, colocamos os pingos nos “is” e nos entendemos, foi essa a única vez, comungávamos de pensamentos e de sonhos comuns.

No lado profissional, o que sei é que Antônio do ano 70 a 77 teve uma casa lotérica na Travessa Tamoio na Rua Senador Vergueiro com Marques de Abrantes. Coincidência ou não o negócio começou a dar para traz quando resolveram juntar a lotérica, uma bomboniere. Trabalhava com ele Silvio Mambreu e um outro senhor conhecido como ‘painho’, eles foram muito amigos. Painho morava nos altos da lotérica e teve também por ocasião de uma enfermidade a ajuda incondicional do Antônio. Depois só sei da casa de material de construção em Jacarepaguá.

Sandra Mambreu, Rosana e Antônio
No aniversário de 90 anos da tia Julia, o Antônio portador de diabete, mesmo com a saúde abalada se fez presente. Ao receber o convite se emocionou, essa emoção revigorou ao rever as pessoas da família e isso pode ser notada no registro das imagens do dia.

Em 2016 fizemos o nosso primeiro encontro de família, ele, infelizmente com saúde debilitada não esteve presente e eu sei o quanto sentiu.

Nas nossas últimas conversas, pude perceber sua entrega sua falta de perspectiva. Eu dizia para ele: para de bobeira, nossa família vive muito, você vai vencer e viver muito também, dava como exemplo a idade do vovô da tia Julia, mamãe, tio Thomé entre outros. Mas uma coisa o consumia, ele estava triste provavelmente se sentindo sozinho. O que havia ficado dos seus pais, uma única irmã e três sobrinhos com quem não tinham uma boa convivência, não se entendiam, a relação fora marcada por desconfianças. Muitas vezes ele me confidenciou dizendo: Que inveja tenho de vocês prima, uma família tão grande e sem problemas, seu pai morreu, não deixou um terço do que meus pais deixaram e vocês não brigaram, dividiram tudo numa boa e em pouco tempo, enquanto eu e minha irmão, minha única irmã com muito mais bens não nos entendemos. Dos meus sobrinhos só
Ana (irma) e Célio (sobrinho)
com o Célio mantenho algum contato. As outras me desconsideram.

Tenho para mim que isso abreviou sua existência. Por outro lado, não substituindo, mas amenizando, os sobrinhos de sua esposa o amavam e carinhosamente lhe chamando de: “tio gordo”.

Nascido em 11 de abril de 1943, aos 75 anos, exatamente no dia 29 de maio de 2018, Antônio Ferreira Gomes Filho, cumprindo sua missão na terra, nos deixou abrindo pelo menos em mim uma lacuna.


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