quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Appolônia Ferreira de Jesus - Appolônia Ferreira Gomes - Parte I


Appolônia -  março de 2010
Outono de 1930, Antônia Rosa de Jesus, no nono mês de gravidez, se prepara para dar à luz. O dia era 10 de abril quando nasce a menina que receberia conforme o preceituado na lei, nome da mãe “Jesus” e nome do pai “Gomes”, mas Appolônia recebeu o mesmo nome dos irmãos Ferreira Gomes. Quando foi se cadastrar no Registro Geral (RG) e no Cartório para retirar o Título Eleitoral, Appolônia se descobre como “Ferreira de Jesus”.

Appolônia cresceu na companhia dos irmãos, mas os companheiros de brincadeiras e aventuras foram Sérgio, Eliza e Olavo e o tio Neco.

João Ferreira tinha por hábito, nas tardes, depois que os trabalhadores deixavam a lavoura sair para conferir os trabalhos. João Ferreira cultivava cana-de-açúcar e como homem de tino utilizava o recurso plantio de consórcio. Por ocasiões da plantação alternativa João levava Appolônia e Eliza. Ele ia a frente abrindo covas e as meninas iam colocando as semente, por vezes de milho por vezes de feijão, em quantidade “x” conforme a plantação exigia. Era dado a cada menina uma porção de sementes e a orientação era: a tarefa  é dada por finalizada assim que as sementes acabem. Assim as meninas eram liberadas podendo voltar para casa ou para as brincadeiras.

Appolônia não parecia dotada de sorte, era sempre a última acabar com o serviço. Seria esse um sinal que recebia mais sementes?

Outro caso que marcou a falta de sorte da menina se deu em sua juventude. Antônia, a mãe, criava galinhas. Por ocasião da enfermidade de uma das filhas teve que ficar na casa da cidade (Campos). O que Antônia fez? Deixou sob os cuidados de Appolônia e Eliza as criações, em contra partida, os ovos originados dessas eram das que colhessem podendo assim serem comercializados. As duas revezavam nos cuidados com as criações num rodízio de 15x15, período que também ficavam na casa da cidade ajudando a mãe. No entanto, é fato: quantos dos períodos, na Babosa, cabidos a Appolônia,  lá chegando, encontrava as galinhas no choco. Não tendo o que colher, não tinha o que vender e assim sendo ficava sem seus míseros “réis” (moeda da época) levando-a por vezes depender de roupas das irmãs para ir as festinhas do lugarejo.

João Ferreira já não era novo e além da natureza rude possuía os ranços da idade o que por vezes o fazia violento sendo Appolônia uma das que mais sofrerá com esse distúrbio de comportamento.

Uma das netas do casal, João Ferreira e Antônia, havia sido deixada temporariamente na casa destes enquanto a mãe acompanhava no Rio outra menor que nascera com problemas de saúde. Enquanto, na companhia dos avôs, a menina sofreu uma fratura no fêmur ficando por meses com gesso, imobilizada, numa cama. Contava nesta época João Ferreira com aproximadamente 94 anos e sua lucidez já não era a mesma. João não se sabe o porquê mais uma vez cismou, tendo como alvo Appolônia tenta agredi - lá  fisicamente. Appolônia já não era mais uma menina e nem se fosse não havia nada que justificasse tal ato. A sobrinha vendo a situação interferiu em favor da tia. O velho João Ferreira que até então não havia sido contrariado em suas decisões, se revoltou com a petulância da neta e sem nunca ter sido contrariado, numa ameaça, partiu para agredir a neta. Porém ele não contava com a agilidade da menina, ela se arrastou até a janela e colocando a boca no mundo gritou. __ Socorro, socorro ele quer me matar. Apareceu gente de todo os cantos: Júlia (filha), Nicodemo (morador da casa da frente – filho), Irene (neta – filha de Nicodemo), Ornila (vizinha) e sabe-se lá quem mais. Resultado. Appolônia foi passar um período no Rio levada pelos irmãos. Mas nada passado por Appolônia fez diminuir o respeito pelos pais. Voltou para casa cuidando do pai e da mãe com a ajuda da irmã Julia até a hora da morte.

Appolônia teve alguns romances, mas abriu mão da vida matrimonial e hoje aos 82 anos de idade vive na casa da Babosa em companhia da irmã Júlia.

Ana, Eliza e Appolônia
Como descrito Appolônia Ferreira de Jesus não teve vida fácil, sua vida fora marcada por vários fatos dolorosos, sofridos. Mesmo tendo ela vários motivos para ser uma pessoa revoltada, amarga,  não se deixou levar pelos intempéricos da vida. É doce, forte, equilibrada, religiosa e crédula. Herdou uma coisa meio mística do seu avô materno José Rosa. Não teve filhos em contra partida ganhou o respeitos de alguns irmãos, admiração e amor de muitos sobrinhos. Do meu lado tenho por ela muito respeito, admiração e um imenso carinho.

Gostaria de ter escrito uma história diferente, mas meu propósito é contar a história da "Família Ferreira Gomes" e esta, é uma das pinceladas deste quadro. O relato foi fato. Sua história não acaba aqui, está mulher a quem foi negado por obra do destino, acaso ou sei lá o quê, o direito a maternidade continua ainda sendo escrita e agora em outras cores. 

Quando for gente grande quero ser como você.

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