quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Confusão no Casamento de João


João foi conviver com Antônia por volta de 1921, mas só no início da década de 40 foi que Dom Pedro Bandeira de Melo realizou a cerimônia, junto a do filho Nicodemos com Maria Matilde e do Senhor Faustino com Dona Paulina.

Tudo arrumado para o grande dia. Dentro dos preparativos estava incluído recital de poesia, contudo a cerimônia não transcorreu num clima de paz, houve discórdia. O desentendimento ocorrido não ficou por conta da famosa frase dita pelos celebrantes nesta ocasião: “Há alguém entre os presentes que tenha alguma coisa que impeça este casamento, que fale agora ou se cale para sempre?" Nem tão pouco foi por conta das filhas Maria e Alzira. Como é sabido, filhas mulheres, geralmente tem ciúmes do pai e mesmo sendo este o caso das duas, não foi o motivo.

A confusão se deu por conta de Alice filha do casal João e Antônia com Estelita filha dos vizinhos, Dona "Cota Amaral e do senhor Zé Elias". Ambas queriam recitar o mesmo poema “O Pássaro Cativo”. Não bastando o desentendimento,  a confusão arrumada pelas duas, Estelita caiu em pranto e chorou por horas a fio por não ter conseguido lembrar a poesia que se encontrava no livro da segunda série que serviu para todos os filhos de João. Na época os livros eram usados por todos o que significa que esses não eram efêmeros como são em sua maioria nos dias atuais.

A apresentação ficou por conta da vencedora deste duelo, Alice, que majestosamente fez a declamação.
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A poesia escolhida, Bilac, mostra o bom gosto eminente no sangue dos membros desta família. Esta é ainda hoje recitada por pelo menos uma das filhas. Elisa, que na época, ainda bem pequenina gravou na memória e na retina a obra deste grande mestre.


O Pássaro Cativo


Arma num galho de árvore um alçapão;
E em breve uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dar-lhe então uma esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dar-lhe alpiste e água fresca, ovos e tudo:
Mas mesmo assim o pássaro continua mudo
Arrepiado triste, sem cantar?
Oh! Criança,
Os pássaros não falam.
Gorjeando apenas sua dor exalam,
Sem que o homem possa entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os seus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre que voar me viste;
Solta-me, quero sol!
Quero o ar livre e o perfume da floresta!
Quero o esplendor da natureza em festa!
Quero cantar as pompas do arrebol!
Quero ao cair da tarde,
Soltar a minha tristíssimas cantigas!
Porque me prendes?
Solta-me covarde!
Não roubes a minha liberdade...
Deus me deu por gaiola imensidade:
Quero voar! Voar!...”
Essas coisas o pássaro diria,
Se pudessem o pássaro falar
E a tua alma, criança, sentiria esta imensa aflição:
E tua alma tremendo, lhe abriria
A porta da prisão... 

A obra  aqui colocada é a registrada na memória de uma das filhas de João presente na cerimônia e que aprendeu ou decorou do livro didático usado por todos como já citado. 

Caso queira conhecer a poesia de Bilac do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ na integra acesse aqui.

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