Antônio, nasceu numa família
pequena, composta pelo pai (tio Ferreira) a mãe Valdimira e a irmã Ana. Antônio
casou-se com Luciene, o casal não teve filhos, um paradoxo para quem amava
família, mas a vida tem dessas coisas.
Luciene (esposa), e Antônio |
Dos encontros presenciais, na
fase de criança, tenho poucas recordação, talvez pela diferença de idade, na
realidade só lembro de uma vez em que ele esteve na casa do vovô com os pais, um
tio chamado Manoel Dias e a tia irmã de sua mãe tratada por Xixita
e o primo Manoelzinho com a namorada. Dessa família tenho uma vaga lembrança,
mas não me esqueci da fisionomia da namorada do Manoelzinho, linda, cabelos
escorridos e que me fazem até hoje associar a Ilze Scamparini, jornalista correspondente da rede Globo na
Itália.
Embora não me recorde, tenho
conhecimento que ele esteve presente no aniversário de 90 anos do vovô, me
recordo também que ele gostava muito de fotos e registrava todos os momentos,
coisa muito chic, afinal quem naquela época possuía máquina fotográfica? Fotos
era seu passatempo predileto. Depois dessa data, levou um bom tempo sem
aparecer, até que um dia, relatado por tia Appolônia, apareceu em sua porta,
num carrão um homem lindo. Esse homem era ele e Antônio era lindo realmente,
embora gordinho para nossos padrões era detentor de uma beleza singular tanto plástica
como de interior.
Falando
em beleza interior, provavelmente poucos foram os que precisando não contaram
com sua solidariedade. Com certeza os que o procuravam não saiam como se
aproximaram. Quanto Antônio ficou sabendo que a tia Alice sofria de Alzheimer
ele passou a ligar com mais regularidade para obter notícias. Era a forma que
tinha de dar atenção. Essa doença neurodegenerativa, por conta da enfermidade
da sua mãe, o marcou muito. Ele se compadeci de todos que sofriam da mesma.
Contava que havia sido marcado profundamente por ocasião de uma cena
presenciada. Ele havia visto sua mãe olhar-se no espelho e perguntar quem era
aquela mulher. Isso o chocou tanto que toda vez que se mencionava alguém com o
problema ele relatava a cena.
Posso falar também dos meus pais que tiveram dele, por
ocasião da enfermidade e morte de minha irmã, toda ajuda possível, tanto dele
quanto do pai. Como agradecimento meus pais deram minha irmã para ele
batizar. Lembro-me desse dia, dia do batizado da Rosana. Confesso que não me
lembro do batizado em si, mas lembro, que aos meus olhos de criança, ele comia
muito, lembro que numa refeição ele tomou uma coca-cola família e comeu um
abacaxi sozinho.
Bate papo no messsenger |
Nossos bate papos eram de horas. Certa
vez me contou como eram na sua infância as viagens para cá, dizia
ele, “Dia de festa e grande expectativa”. Saiamos do Rio de madrugada,
enfrentávamos uma estrada longa e ao chegar a Campos até chegar à Babosa tinhamos que enfrentar estrada de chão esburacada e muitas vezes coberta por lama. A
viagem, segundo ele, parecia não ter fim e a tão sonhada chegada parecia
adiada. Ele também manteve na memória os causos contados pelo vovô, a cachacinha nas
refeições e muitas outras lembranças.
Quantas vezes, de sua parte,
recebi elogios pela iniciativa do blog, ele queria mais, sempre sedento de
histórias, curioso para saber se havíamos descoberto a origem do vovô. Ele com
sua vida contribuiu muito com esse veículo. Já minha história convivência com
Antônio, como na maior parte dos relacionamentos houve, pelo menos um, desentendimento, mas
nada como uma boa conversa, colocamos os pingos nos “is” e nos entendemos, foi
essa a única vez, comungávamos de pensamentos e de sonhos comuns.
No lado profissional, o que sei é
que Antônio do ano 70 a 77 teve uma casa lotérica na Travessa Tamoio na Rua
Senador Vergueiro com Marques de Abrantes. Coincidência ou não o negócio começou
a dar para traz quando resolveram juntar a lotérica, uma bomboniere. Trabalhava
com ele Silvio Mambreu e um outro senhor conhecido como ‘painho’, eles foram
muito amigos. Painho morava nos altos da lotérica e teve também por ocasião de
uma enfermidade a ajuda incondicional do Antônio. Depois só sei da casa de
material de construção em Jacarepaguá.
Sandra Mambreu, Rosana e Antônio |
Em 2016 fizemos o nosso primeiro
encontro de família, ele, infelizmente com saúde debilitada não esteve presente
e eu sei o quanto sentiu.
Nas nossas últimas conversas, pude
perceber sua entrega sua falta de perspectiva. Eu dizia para ele: para de
bobeira, nossa família vive muito, você vai vencer e viver muito também, dava
como exemplo a idade do vovô da tia Julia, mamãe, tio Thomé entre outros. Mas
uma coisa o consumia, ele estava triste provavelmente se sentindo sozinho. O
que havia ficado dos seus pais, uma única irmã e três sobrinhos com quem não tinham
uma boa convivência, não se entendiam, a relação fora marcada por
desconfianças. Muitas vezes ele me confidenciou dizendo: Que inveja tenho de
vocês prima, uma família tão grande e sem problemas, seu pai morreu, não deixou
um terço do que meus pais deixaram e vocês não brigaram, dividiram tudo numa
boa e em pouco tempo, enquanto eu e minha irmão, minha única irmã com muito
mais bens não nos entendemos. Dos meus sobrinhos só
com o Célio mantenho algum
contato. As outras me desconsideram.
Tenho para mim que isso abreviou sua existência. Por outro lado, não substituindo, mas amenizando, os sobrinhos de sua esposa o amavam e carinhosamente lhe chamando de: “tio gordo”.
Ana (irma) e Célio (sobrinho) |
Tenho para mim que isso abreviou sua existência. Por outro lado, não substituindo, mas amenizando, os sobrinhos de sua esposa o amavam e carinhosamente lhe chamando de: “tio gordo”.
Nascido em 11 de abril de 1943,
aos 75 anos, exatamente no dia 29 de maio de 2018, Antônio Ferreira Gomes
Filho, cumprindo sua missão na terra, nos deixou abrindo pelo menos em mim uma
lacuna.
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